São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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Um vice provado

JANIO DE FREITAS

No seu primeiro programa radiofônico do horário eleitoral, transmitido ontem e bem realizado, Fernando Henrique fez uma auto-apresentação em que realçou bastante a aposentadoria compulsória que a ditadura militar lhe impôs e os anos em que se exilou no Chile. Onde estava Marco Maciel naqueles anos, se não estava dando apoio às aposentadorias compulsórias, às pressões que impeliam ao exílio e a todas as outras e mais brutais violências da ditadura militar?
Não consta que Marco Maciel tenha sido imposto pelo PFL. Foi, pelo que se sabe, escolha comum de pefelistas e peessedebistas com a participação de Fernando Henrique. Tinham, todos, o direito de subscrever tal escolha e Marco Maciel o de aceitá-la. Mas a conjugação de um crítico (ainda hoje) da ditadura militar e de um dos sustentadores dela é, para dizer o menos, levar moralmente muito longe o oportunismo eleitoral.
Marco Maciel não foi um integrante da Arena como tantos outros que aceitaram a ditadura militar sem, no entanto, justificá-la por palavras e coonestá-la por atos. Da geração de políticos projetados pela ditadura, nenhum foi mais infalível no apoio às arbitrariedades contra as expressões da liberdade e da cidadania, aí incluído o fechamento do próprio Congresso. Não foi outro o motivo pelo qual Marco Maciel se tornou o mais beneficiado, politicamente, dentre os parlamentares do regime. Não experimentou jamais, nem por um momento, as fases de desprestígio a que nem políticos como Jarbas Passarinho escaparam.
Marco Maciel, como gosta de lembrar, esteve entre os que compuseram a Aliança Democrática para a eleição indireta de Tancredo. Mas há algo mais a lembrar: é que, não pertencendo à corrente de Paulo Maluf nem à de Mário Andreazza, Marco Maciel ficara sem opção arenista para manter-se na tona da política.
Não ousarei supor que Marco Maciel não mudou em nada. O fato é que dele nunca se ouviu uma palavra de reavaliação de um só, um que fosse, dos seus comprometimentos com a ditadura. Quem não esquece o seu passado, portanto, não somos outros e eu, é o próprio Marco Maciel.
Contra Guilherme Palmeira pelo menos faltavam provas.
Ainda no terreno
O senador Esperidião Amin e a deputada Angela Amin informam, a respeito do terreno que foi assunto desta coluna anteontem:
– O terreno, composto de três lotes, foi por ele comprado em 1975, figurando já em sua declaração de Imposto de Renda daquele ano, da qual recebi cópia. Mas a inscrição no registro de imóveis só aconteceu em 79 porque dependia do registro do próprio loteamento Santa Helena. A transferência para Angela Heinzen, depois Angela Amin, deu-se, portanto, quatro anos depois da compra.
– Palavras do senador: "Não houve financiamento para construção de casa para Amin em nenhum desses lotes. Um dos lotes foi vendido em 2 de agosto de 86 para quitar compromissos da construção de uma casa (no bairro Bom Abrigo), esta, sim, financiada pelo SFH".
Lembrado por mim de que o registro 3/5989 do 2 ofício do Cartório de Imóveis de Florianópolis intitula-se "Contrato particular de empréstimo para aquisição de terreno e de abertura de crédito para construção da casa própria", o senador Amin atribuiu o título a erro do cartório, argumentando que o financiamento não foi por liberações progressivas como é próprio dos empréstimos para construção, foi de uma só vez. A haver erro, porém, não seria do registro de imóveis, mas do próprio contrato de financiamento com a Caixa Econômica de Santa Catarina, cujo texto define uma "operação de financiamento, dividida em empréstimo para aquisição de terreno e abertura de crédito para construção da casa própria".

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