São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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Real coloca Lula e FHC no mesmo barco

ELEONORA DE LUCENA
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO

Agora os dois principais candidatos para o Planalto estão no mesmo barco. O barco do Real. Luiz Inácio Lula da Silva aparentemente desistiu de atacar o plano e já incorporou a nova moeda ao seu programa de governo.
Atingido de frente pelo sucesso inicial das medidas econômicas encomendadas por Fernando Henrique Cardoso, Lula mudou o discurso e já promete "mais reais" aos eleitores.
Seu novo vice, o economista Aloizio Mercadante, escolhido para supostamente golpear o Real, não consegue articular nenhuma crítica mais substantiva à equipe econômica. Pelo contrário, anunciou, no mesmo dia dos economistas oficiais, a forte possibilidade de deflação (inflação negativa) neste mês de agosto.
É verdade que nunca um plano foi feito tão sob encomenda para um candidato. Por mais que os autores do projeto ressaltem a globalidade das medidas, não há como negar o peso definitivo do calendário eleitoral na implantação do choque.
É consenso que dificilmente o plano terá tempo para dar muito errado até o final do ano. A inflação desabou e há uma forte sensação de estabilidade na moeda.
Já está anunciado um reajuste para o salário mínimo na véspera do primeiro turno e o aumento do funcionalismo público deve estourar também próximo da hora do voto.
Para arrematar, até uma nova moeda (a de R$ 0,25) vai entrar em circulação dois dias antes da eleição. Haja fato político –e econômico.
Por tudo isso, o clima imposto pelo Plano Real ao país é de lua-de-mel. A população apóia de forma esmagadora as medidas, embora não haja a euforia do Plano Cruzado (1986).
Mas dentro do próprio governo a análise é de que essa situação não garante o sucesso do programa. A lógica do plano é no sentido da recessão (basta lembrar das altas taxas de juros) e aumento do desemprego. Fatos novos que poderão azedar o apoio político às medidas econômicas.
Na avaliação da equipe, há obstáculos pela frente, como o aumento salarial do funcionalismo (que vai fazer o governo gastar mais) e a queda previsível da arrecadação. Sem falar nas "reformas estruturais" consideradas necessárias para a manutenção do plano no longo prazo.
No curto prazo, existe a possibilidade de greves em setembro, quando categorias como bancários e petroleiros fazem campanhas salariais. São trabalhadores sob influência petista e que já atuaram politicamente em outros tempos.
Resta saber qual será a estratégia de Lula. Se estimular greves, ele poderá atingir o plano, mas também dará espaço para o discurso do caos em seu eventual governo. Contra as paralisações há sempre a ameaça de aumento no ritmo das demissões –hipótese provável em função da queda no consumo.
Se quiser frear o movimento, Lula pode calar os que falam do apocalipse, mas também ajudará o projeto de FHC. A julgar pelas últimas declarações do candidato do PT em apoio ao real, é possível que ele colabore com o sucesso do programa. Afinal, esse plano é quase uma unanimidade. Não se sabe até quando.

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