São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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O espólio de Quércia

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Passadas as substituições dos candidatos a vice das duas chapas favoritas, o próximo grande lance do jogo presidencial passa por Orestes Quércia.
Empacado nas pesquisas em percentuais que não ultrapassam os 7%, o candidato é hoje um moribundo político.
Pode tombar definitivamente na sexta-feira, se a Justiça aceitar denúncia que o acusa de estelionato.
Qualquer que seja a sentença, Quércia será traído pelo grosso do seu partido.
Avança no eixo Brasília-Porto Alegre uma articulação que lançará o PMDB no colo de Fernando Henrique Cardoso.
No comando da operação estão Antônio Britto, candidato favorito ao governo do Rio Grande do Sul, e Pedro Simon, líder do governo no Senado.
Se for contrária a Quércia, a decisão da Justiça pode apenas antecipar o movimento de traição pública ao candidato, inicialmente projetado para ocorrer daqui a 20 dias.
O ex-presidente José Sarney já avisou às principais lideranças do partido que não planeja substituir Quércia em caso de renúncia.
Sarney acha que seu tempo passou. A filha, Roseana, e os potenciais aliados do PFL já se ajeitaram com Fernando Henrique.
A articulação prosseguirá ainda que Quércia não renuncie. O plano conta com a simpatia de Luiz Henrique, presidente do PMDB, e prevê adesões em cascata de peemedebistas de peso a Fernando Henrique.
A rebelião coletiva do PMDB contra Quércia começará pelo Rio Grande do Sul e passará pelo Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte e Acre.
São estes os Estados onde o partido tem maiores chances na disputa pelos governos locais.
Fernando Henrique e seus auxiliares de campanha temiam que o PMDB acabasse se aliando a Leonel Brizola (PDT). Mas a hipótese é agora descartada.
Brizola vinha se entendendo diretamente com Quércia. Corre o risco de ficar falando sozinho. Seu maior problema, a exemplo do próprio Quércia, é a inanição política.
A movimentação dos peemedebistas tende a polarizar ainda mais a campanha entre as candidaturas de Fernando Henrique e de Lula.
Aliás, alguns petistas torciam ontem para que Quércia não seja denunciado na sexta-feira por estelionato. Para o PT, quanto maior for a sobrevida de Quércia, melhor.

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