São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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O líbero Válber marca um gol de Copa

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, "vuelvo ao sur" como está cantando a fina figura de Caetano Veloso. Chego ao sul como o destino de coração, na letra de Fernando Solanas para a música de Piazzolla.
E chego aqui nos nossos países baixos com o futebol lá em cima. Alô, alô São Paulo! Que beleza! O Telê Santana parece que voltou mais sábio da Copa. Mais sábio e mais inovador ainda.
Ninguém acreditava no líbero no Brasil. Até que apareceu o Telê Santana. E até que apareceu o Válber. A fina flor do futebol brasileiro rebrotando nos jardins e nos gramados dos sonhos.
Que continuam vivos. E rolando, rolando, rolando. De primeira. Na categoria. Nos pés do Palhinha. Nos pés do Válber. Nos pés do mestre André do sapato novo. Nos pés do Juninho. Do Muller.
O Brasil foi tetra jogando de um jeito. Mas o Brasil tem muitos jeitos. Tem muitos jeitos de ganhar. Tem muitos jeitos de encantar. Tem muitos jeitos de enfeitiçar.
O futebol não é singular. O futebol é plural. Eis a moral. Porque o Brasil não é só verde, anil e amarelo. O Brasil também é cor-de-rosa e carvão. Como canta a Marisa Monte no novo disco.
O Mário Sérgio tem toda razão quando enfatiza a diferença entre o líbero criador e o homem que fica solto na espera, na espreita, na moita, na mira, na sobra, na sombra da marcação.
O último é uma pantera. O primeiro é um panteros, para citar o corintiano Décio Pignatari. É alguém que participa da erótica da bola (sem verbo não há erotismo), da volúpia da criação do jogo.
Assim é o Válber nas novas funções. Abriu-se um novo campo para ele. E ele usou este campo. Ô Válber! Que golaço, meu filho! Passes trocados da intermediária própria à área adversária.
Uma aquarela. Uma intervenção. Uma performance. Que merece estar na próxima Bienal. Ô mestre Telê! Que maravilha a escola de toques e retoques do São Paulo! E como é inusperável o gol no fut!
Alô, alô Carlos Caboclo, o homem voltou ainda mais sábio da Copa! Voltou com três na defesa. E o tricolor renasceu!
E renasceu o Palhinha, o tênue, o sutil, a delicadeza perdida no país e reencontrada nos campos do senhor do futebol.
Agora só falta um plano de estabilização, um choque heterodoxo, para baixar a inflação de jogos. Tem jogo demais por aqui. Jogo demais e magnética de menos.
É por isto que jogadores como Cafu, Palhinha, Muller baixaram de rendimento. Estão na terceira temporada consecutiva de cem jogos. Assim não dá.
Uma nova ética no país precisa também de uma nova ética no esporte. Para não acabar com a estética. A safra é das melhores. O futebol daqui compete com grande vantagem no mercado mundial.
O Brasil conquistou um inédito tetra. Pode conquistar dois inéditos tris. Com jogadores diferentes. Com filosofias de jogo diferentes. Está na boca de recuperar uma hegemonia perdida há trinta anos.
Está na hora de acabar com o inchaço dos campeonatos. E com o excesso de jogos. Menos partida. E mais torcida. Menos prejuízos para os clubes. E mais lucro para as magnéticas agradecidas.
E da mesa redonda do Jô para a roda viva (thanks, Mr. Zingg) daqui-agora. E se o Marcelinho do Corinthians estivesse na Copa liderava o ranking da Fifa. Porque ele é bom gol e bom de assistência.
E da roda viva para o rodeio. Do Chicago Bull's para o Barretos Bull's. Porque o vento frio está avisando que é chegada a hora do festão.
Vuelvo al sur. E eu viajei de LA para Boston com uns teens argentinos que são loucos sabe por quem? Pelo Vitória. Da Bahia. E nós continuamos loucos por uma vitória, não é mesmo, meu bem?
Saravá, São Paulo.

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