São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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'Ethan Frome' explora desejos contidos

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Ao falar de seu romance "Ethan Frome, Um Amor Para Sempre" em seus diários e cartas, a escritora norte-americana Edith Wharton (1862-1937) escreve que tudo foi feito "pela arte da composição", na tentativa de contar uma história de amor. Mas de um amor que não existe no mundo. Ao menos não no mundo que conhecemos.
Na provinciana cidade de Starkville um jovem reverendo se interessa pela estranha figura de Ethan Frome, um solitário que vive à margem das pessoas do lugar. Ele carrega uma fantástica história em seu passado. Fantástica não por ser fora do comum. Mas sim como algo fantasmagórico, gótico, no sentido em que faz do mistério um veículo para a extranheza e o desconforto.
Frome, acabamos por descobrir em sua próprias lembranças, foi um homem que sofreu um severo castigo para o maior dos pecados na América do início do século: amar alguém contra as regras vitorianas do período. Amar alguém que não é sua mulher, alguém fora do que lhe foi estabelecido. Enfim, por ter se aproximado perigosamente de uma estranha.
Mas, como em toda literatura criada por Wharton, toda a história de amor só se realiza pela refinada contenção do desejo.
Como em "A Era da Inocência", outra obra de Wharton adaptada ao cinema, por Martin Scorsese, os relacionamentos só se explicitam naquilo que não é dito, com cada gesto cuidadosamente medido. Paixão que de forma alguma é explosiva ou aparente.
Se comparado ainda ao filme de Scorsese, "Ethan Frome", do diretor John Madden, não possui a qualidade de uma grande direção. Não apresenta qualquer tipo de inventividade em suas cenas e enquadramentos. Não excita pelo rumo que dá as formas.
Mas talvez esse seja o tipo de filme em que um tratamento mais ousado seria um excesso. Pois consegue parte de sua força da dupla de atores - Patricia Arquete (uma atriz de uma beleza encantadora) e Liam Neeson, que escapam da armadilha da afetação e dos maneirismos gratuitos. O que pode ser extremamente difícil, quando a intenção é representar não pessoas, mas pequenos universos. Com a obrigação de não se render à histeria, mas sim à escuta de si mesmo.
"Ethan Frome" é então, um filme sobre a natureza íntima. A história de um homem do ponto de vista daqueles que sobrevivem aos seus próprios ideais românticos. Um filme sobre pessoas de alguma forma vencidas, que possuem um coração no inverno. Mas ainda assim, imensamente belos.

Vídeo: Ethan Frome, Um Amor Para Sempre
Produção: EUA, 1994
Direção: John Madden
Elenco: Liam Neeson, Patricia Arquete
Lançamento: Castle (tel. 011/536-0677)

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