São Paulo, quinta-feira, 4 de agosto de 1994
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Risco insuportável

É com espanto e indignação que se recebe o comunicado que vem sendo veiculado pela Secretaria de Abastecimento da Prefeitura de São Paulo anunciando à população local que sua saúde está e continuará a ser colocada em grave risco nos próximos 60 dias.
O governo municipal afirma que detectou "problemas gravíssimos" quanto à composição de diversos alimentos industrializados em exames feitos pelo departamento de vigilância e controle sanitário. A expectativa natural seria evidentemente a de que, face a essa constatação, medidas enérgicas tivessem sido tomadas de imediato para sustar as irregularidades, evitar que a população continue a ser atingida e punir devidamente os autores das infrações.
Nada mais longe da realidade. A prefeitura, no mesmo comunicado, limita-se a alertar as empresas que aquelas "que não se enquadrarem às exigências da legislação vigente no prazo de 60 dias" terão seu nome divulgado para a população –nomes, diga-se de passagem, que os paulistanos deveriam ter recebido na mesma data em que a irregularidade foi constatada.
Com a sua atitude, a prefeitura parece cometer uma de duas irresponsabilidades. Ou está exagerando no comunicado ao chamar de "gravíssimo" algo que não merece tal classificação -e nesse caso peca por provocar alarme desnecessário na população da cidade–, ou então está deliberadamente permitindo que os paulistanos continuem a ser intoxicados com produtos perigosos por ainda 60 dias.
Afinal, se há uma "gravíssima" violação à lei em andamento –como a prefeitura afirma que há–, o dever do poder público é fazê-la cessar de imediato. Já seria um absurdo, por exemplo, se o município flagrasse um vândalo danificando casas e monumentos e não fizesse mais do que alertá-lo de que precisa parar de fazê-lo em dois meses. Quando o problema envolve assunto de saúde pública, então, esse comportamento é inaceitável.

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