São Paulo, sábado, 6 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma candidatura ressuscitada

JANIO DE FREITAS

Inversamente à idéia generalizada, quanto maior a polarização entre dois candidatos, maior a importância eleitoral que os demais candidatos adquirem. Em razão mesma da polarização, os candidatos mal situados não deslocam tendências de voto entre si. Mas cada um deles que suba ou desça, por pouco que seja, influi na disputa dos dois ponteiros, diminuindo ou aumentando as tendências de voto neles concentradas. E aí está um motivo para se admitir que a decisão da Justiça favorável a Orestes Quércia reflita-se na polarização entre Lula da Silva e Fernando Henrique.
Em termos políticos, a decisão favorável a Quércia dotou-o de dois instrumentos: os efeitos de propaganda que pode extrair da decisão judicial e o argumento que lhe faltava para recuperar um razoável controle do PMDB. E já uma consequência imediata desta nova situação de Quércia é o forçoso refluxo das articulações de peemedebistas para adesão a Fernando Henrique desde agora.
Por excesso de confiança na decisão contrária a Quércia, seus adversários no PMDB adotaram o passo lento, aguardando o julgamento que lhes daria razões poderosas para insurgir boa parte dos peemedebistas contra o candidato partidário. A decisão judicial negou-lhes as razões e lhes tirou as condições para agir, ao menos por ora.
Se o atilado Quércia de episódios passados mostrar-se outra vez, não perderá esta oportunidade de remobilizar a corrente peemedebista que o fez candidato. Ainda que não seja mais a mesma, é suficiente para, reanimada, retirá-lo da estagnação em que tem aparecido nas pesquisas. Mais uns quatro a seis pontos não surpreenderiam. Mas estes não viriam, por certo, dos brizolistas. Os sulistas que apóiam o catarinense Esperidião Amin também não têm motivo para aderir ao paulista Quércia. O crescimento se faria com a reabsorção de apoios do eleitorado peemedebista a Lula e Fernando Henrique e, ainda, com a mobilização da quota de peemedebistas que, por desalento e perplexidade, têm engrossado os altos 20% até aqui sem preferência definida.
Basta que Quércia reassuma uma parte dos peemedebistas que vêm indicando Lula ou Fernando Henrique, dada a situação precária que o seu candidato partidário ostentava, para que a decisão judicial tenha se refletido na polarização. A esta altura, 2%, 3% já têm muito valor para qualquer dos dois ponteiros. Assim como a presença de um terceiro pretendente às preferências ainda não definidas.

Texto Anterior: Último tango
Próximo Texto: A caneta mal-assombrada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.