São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Por que eles não seguem a Parmalat?

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Porque eles não seguem a Parmalat?
Repatriar os tetracampeões é uma boa idéia; mais sensato seria organizar um Campeonato Brasileiro atrativo
Essa Copa Parmalat, que começou sexta à noite e se encerra esta tarde, mais parece um daqueles festivais que antigamente iluminavam as manhãs de domingo nas várzeas da cidade.
Claro que não tem nenhum valor técnico. Nem mesmo dá para se apurar as diferenças de escola de cada um dos participantes, vindos daqui e dali. Vale, sim, como sustentação de marketing para uma empresa que fez do futebol uma séria estratégia de vendas.
Onde ninguém quer botar dinheiro, a Parmalat vai semeando uma tradição peculiar, em cada país que se estabelece. Falo em tradição porque me lembro que essa era a palavra que fechava as portas do patrocínio no Brasil, anos atrás, quando se apontava esse como o único caminho para escaparmos da falência.
Os executivos argumentavam que patrocinar um clube como o Palmeiras, por exemplo, seria perder a maior fatia do mercado, composta pela soma de corintianos, tricolores etc.
Além do mais, a simples impressão de uma marca comercial nos uniformes seria um golpe fatal na tradição do clube, o que provocaria a ira do próprio torcedor beneficiado. Logo, deu-se o impasse, que atrasou o futebol brasileiro cerca de 20 anos em relação ao europeu, pelo menos no tocante à parte financeira.
Pois, tempos atrás, numa mesa de publicitários, rolou a seguinte informação: pesquisa feita pela Parmalat junto aos consumidores de seus produtos, deu um resultado inesperado –o consumidor confundia tanto a multinacional com o Palmeiras que julgava ter a Parmalat no Brasil a idade do tradicional alviverde.
Isto é, uma marca comercial, recente no país, havia absorvido a confiança de anos de tradição do clube de futebol. Em termos de imagem de um produto que tem na confiabilidade sua viga mestra, como mensurar esse resultado?
O que me deixa encafifado é como, diante de resultados tão positivos, nenhuma outra empresa desse porte decidiu seguir os passos da Parmalat, tendo à sua frente um leque de opções imenso –praticamente todos os grandes clubes brasileiros, em suma, o futebol tetracampeão do mundo de seleções e bi de clubes.
A propósito, fez-se uma réstia de luz na rua da Alfândega, 70, Rio de Janeiro, sede da CBF: Ricardo Teixeira diz que vai reunir um grupo de empresários que estejam dispostos a se cotizarem para trazer de volta nossos tetras exilados.
Eu disse que é uma réstia e não um facho de luz porque a idéia de tentar sensibilizar nosso empresariado tendo como mote emocional a conquista do tetra é boa. Só que o caminho não é o mecenato, que morre na primeira esquina.
O caminho é oferecer condições reais para não só atrair investimentos como para desenvolver nosso futebol dentro das quatro linhas, acrescentando o borderô de grandes platéias à essa nova injeção de recursos ao jogo da bola doméstico.
E tudo começa com um calendário racional, imutável, que privilegie os melhores tecnicamente, enxugando esse monstrengo obeso e obsoleto chamado Campeonato Brasileiro.
O que vem por aí, por exemplo, é um daqueles absurdos, cheio de privilégios já condenados pelo torcedor e pela crítica, com longos períodos de jogos que não valem nada, repescagens e todos os macetes já conhecidos e reprovados.
Mas isso, sei bem, seria exigir muito dos nossos cartolas, que, de modernidade, só conhecem mesmo o execrável telefone celular, as gravatas Hermés, algumas garrafas de Logan e todos aqueles símbolos que envelheceram este país tão recentemente. Mas, quem sabe, um dia, esse raio de luz não se amplie até os limites do século que se vai?

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