São Paulo, domingo, 7 de agosto de 1994
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Mamífero brasileiro ganha "Livro Vermelho"

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Juscelinomys candango. Não é graça. É o nome científico do único mamífero possivelmente extinto no Brasil. O ratinho que não sobreviveu a Brasília é uma das estrelas do pioneiro "Livro Vermelho" de espécies ameaçadas do país.
A obra, compilada pela Fundação Biodiversitas, de Belo Horizonte, contempla apenas mamíferos. São 58 espécies, 12% dos animais dessa classe no país. O próximo volume será dedicado às aves.
As listas de espécies brasileiras ameaçadas começaram a ser feitas nos anos 60, no exterior. É a primeira vez que um estudo desses é produzido e publicado por aqui.
Mais do que uma simples "ficha técnica" de cada bicho, o livro traz tudo o que se sabe sobre seus habitats, distribuição geográfica (com mapas) e situação de conservação.
Além de especialistas, a Biodiversitas pretende que a obra seja útil também para estudantes e adeptos da preservação (objetivo mais fácil de atingir se o volume contivesse um índice com os nomes comuns dos animais).
Espécies são o nível mais detalhado de classificação dos seres vivos. Os dois termos dos chamados nomes científicos identificam cada grupo de organismos capaz de gerar descendência fértil na natureza.
Com cerca de 460 espécies de mamíferos em seu território, o Brasil é um líder em diversidade. Perde só para Indonésia (680), México (580) e Austrália (490).
Por outro lado, o país é também campeão absoluto em espécies ameaçadas (310). Entre as 58 de mamíferos, 19 entraram para a lista oficial nos últimos 17 anos.
O livro adota as categorias de espécies ameaçadas da UICN (União Internacional de Conservação da Natureza): extinta, em perigo, vulnerável, rara, indeterminada, insuficientemente conhecida.
Só as cinco últimas categorias aparecem no volume. Ou seja, nenhum mamífero está oficialmente extinto no Brasil, como o lobo-da-tasmânia (Oceania).
Espécies mais badaladas, como as quatro de micos-leões (dourado, cara-dourada, cara-preta e caiçara), estão "só em perigo".
Em outras palavras, sua sobrevivência é improvável se subsistirem as ameaças de hoje –em geral, redução drástica do habitat.
Categorias como "vulneráve", porém, não representam um salvo-conduto. Espécies naturalmente raras, como o cachorro-do-mato-vinagre, sucumbem mais rápido ao encolhimento de habitats.
Na categoria "em perigo" figuram ainda aquelas espécies que estão provavelmente extintas, mas que ainda não cumpriram o prazo de 50 anos observado pela UICN.
É o caso do J. candango. Deste roedor só se conhecem os oito exemplares coletados em 1960 onde hoje está o lago Paranoá (DF).
Nesses 34 anos, nenhum outro espécime foi encontrado no cerrado. O mais provável é que o ratinho batizado em homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) figure como extinto no "Livro Vermelho" do ano 2010.

LIVRO VERMELHO DOS MAMÍFEROS BRASILEIROS AMEAÇADOS DE EXTINÇÃO, de Gustavo A.B. da Fonseca, Anthony B. Rylands, Cláudia M.R. Costa, Ricardo B. Machado e Yuri L.R. Leite (editores). Fundação Biodiversitas (r. Maria Vaz de Melo, 71, CEP 31260-110, Belo Horizonte, MG, tel. 031/443-2119, fax 031/441-7037). Tiragem: 2 mil exemplares. 480 págs. Preço: R$ 33,00 (o livro deve ser encomendado diretamente à Fundação Biodiversitas).

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