São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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FHC versus Itamar

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em 86, às vésperas do anúncio do Plano Cruzado, Fernando Henrique deu uma entrevista desancando Sarney. Acusava-o de presidente inoperante. Para dizer o mínimo.
A fulminante aceitação popular do plano deixou-o em maus lençóis. Arrependeu-se de cada palavra. Queria enfiar a cabeça na terra.
Gaiato, o deputado Fernando Lyra não perdeu a frase: "Dessa vez, ele não pisou no tomate, pisou no tomateiro."
Fernando Henrique acabou ajeitando a situação. Apoiou o plano. Como tantos políticos, colheu os benefícios eleitorais. Elegeu-se senador.
Hoje, com o seu real, Fernando Henrique evoluiu. Longe de pisar, está cultivando o tomateiro. Cerca-o de cuidados.
Nos próximos meses, seu comitê de campanha praticamente mudará de endereço. Passará a funcionar no prédio do Ministério da Fazenda.
Para setembro, espera-se algo ainda melhor. Coisa de no máximo 1%. A ilusão da estabilidade econômica fortalecerá a musculatura do candidato do real.
Fernando Henrique não quer outra vida. Se pudesse, congelaria Itamar Franco. E só o retiraria do gelo depois das eleições.
Na fase atual, Itamar preocupa mais a Fernando Henrique do que Lula. Qualquer vírgula mal colocada pode gerar um terremoto.
A paciência dos integrantes da equipe econômica está no limite. Inclua-se entre os descontentes o próprio Ricupero.
Religioso, o ministro tem um temperamento de Jó. Mas, chamado de mentiroso, contou até dez. Na verdade, ainda não concluiu a contagem.
Há um pacto entre os gestores do Plano Real. Se sair um, saem todos. Uma demissão coletiva faria a terra tremer sob os pés de Fernando Henrique.
Desenvolve-se entre o candidato oficial e o presidente uma relação quase psicanalítica. Um se considera responsável pelo sucesso do outro.
Itamar diz na intimidade que, não fosse por ele, Fernando Henrique estaria no limbo. Não se elegeria deputado.
Fernando Henrique afirma, também na intimidade, que, sem ele, Itamar estaria às voltas com uma pressão para encurtar-lhe o mandato.
Se um aliado de Lula estivesse instalado no Palácio do Planalto, dificilmente prestaria melhor serviço à campanha petista do que Itamar Franco.

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