São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 1994
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Rindo do quê?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Pelas contas feitas pelo economista Demian Fiocca, colaborador desta Folha, os salários perderam mais ou menos 11% de seu poder de compra só nos dois últimos meses.
Conta aliás fácil de fazer: em junho, a URV, que corrigia os salários, subiu 46,6%, mas a inflação medida pela Fipe foi de 50,75%. Some-se a perda de julho (inflação de 6,95% e zero para os salários) e chega-se aos 11%.
Mauro Zafalon, que funciona na Folha como uma espécie de banco de dados ambulante sobre economia, fuça nos seus arquivos e dá os números da cesta básica. Custava o equivalente a R$ 95,86 a 1º de março, no momento de introdução da URV. Ontem, o custo já era de R$ 100,87, uns 5% mais portanto.
Uma rápida olhada na pesquisa de emprego e desemprego na Grande São Paulo, feita pela Seade, em colaboração com o Dieese, mostra que o desemprego mantém-se há muito tempo no patamar dos 15% da população economicamente ativa.
Mais: "O nível de ocupação decresceu 2,4% na Grande São Paulo, no primeiro semestre de 1994, o que equivale à eliminação de 166 mil postos de trabalho, em relação a dezembro do ano anterior. Esta trajetória é mais desfavorável que a observada no mesmo período de 1993".
No início do segundo semestre (julho), a coisa não melhorou: a indústria paulista continuou decapitando postos de trabalho, cortando mais 3.848 funcionários, ou 0,17% dos existentes.
Tire-se a mira do assalariado e olhe-se para o lado dos cofres públicos. Uma das promessas feitas reiteradamente ao longo da gestação da nova moeda era a de começar pondo ordem na casa. Pois bem: o jornal "Gazeta Mercantil" de ontem afirma que "a face fiscal do programa de estabilização é mesmo inquietante".
O jornal atribui a anônimos técnicos do Tesouro a avaliação de que "não parece ser possível zerar o déficit operacional do Orçamento deste ano" (é o déficit que inclui juros das dívidas interna e externa).
Aí, consulte-se a mais recente pesquisa sobre o real. A maioria aprova. É fantástico.

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