São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 1994
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Cada vez mais sujo

Causam espanto as informações reveladas ontem por esta Folha acerca da deterioração do nível de poluição do rio Tietê em São Paulo. Dados da Cetesb (órgão estadual encarregado de analisar a qualidade da água) indicam que desde 1990, quando já era classificada como "ruim", a média anual do índice para o Tietê só vem piorando.
Esse resultado surpreende ainda mais quando se nota que o governo paulista encontra-se em meio a uma enorme campanha publicitária prometendo reduzir pela metade a poluição orgânica do rio até o fim do ano. Apesar dos gastos exorbitantes de US$ 3,7 milhões com a propaganda, coincidentemente lançada em ano eleitoral, há muitas dúvidas sobre a viabilidade dos prazos. E esse valor equivale a 10% do custo da despoluição de outro rio paulistano, o Pinheiros.
No que se refere aos dados sobre o Tietê, o governo estadual decidiu-se pela intrigante estratégia de desautorizar seu próprio órgão, chamando o índice da Cetesb de "extremamente errado" porque não consideraria a variação das chuvas. Independentemente do mérito das críticas –e a piora em mais de três anos não sugere um problema pluviométrico sazonal–, é de se indagar por que o Estado gasta dinheiro dos paulistas para calcular um índice que considera inadequado.
Decerto não se pode cobrar resultados imediatos de um projeto de longo prazo como a recuperação de um rio podre. Foram muitos anos até que os poluídos Tâmisa e Reno voltassem a ser piscosos.
O que causa estranheza é que a situação não só não vem melhorando como, segundo a Cetesb, piorou nos últimos anos. Mais ainda, foi o próprio governo que impôs a dimensão temporal sobre a despoluição com promessas duvidosas e de "timing" sugestivamente eleitoral.
É claro que não se discute o projeto em si. Seus benefícios são óbvios. Mas, como em toda iniciativa pública, cabe à população fiscalizar e ao governo prestar os esclarecimentos devidos. Isso sem desperdiçar dinheiro do contribuinte em campanhas de autopromoção.

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