São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 1994
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O PT e as pretas

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Em almoço na semana passada, Marco Aurélio Garcia, coordenador de governo do PT, admitia: "Estamos jogando com as pretas". É linguagem do xadrez para dizer que o adversário, no caso FHC, joga com as brancas e, portanto, tem a iniciativa, por ser o primeiro a dar o lance.
É verdade. O PT, desde a introdução do real, passou apenas a reagir, desorganizada e atabalhoadamente, ao avanço de Fernando Henrique Cardoso nas pesquisas.
Agora, parecem inúteis os ensaios de mudanças de rumo na estratégia de campanha. O PT perdeu as peças brancas em uma reunião da Executiva nacional antes da troca de moeda, na qual se cometeu brutal e primário erro de avaliação em relação ao efeito eleitoral da estabilização da economia.
Voz vencida, o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, defendeu a tese de que a estabilização teria um formidável efeito. Chegou a dizer, corretamente, que o partido não poderia confundir a ênfase na questão social, um problema permanente não tocado pela nova moeda, com a inflação, tema conjuntural por definição, ainda que, no Brasil, tenha tão longa vida.
Na prática, a análise de Tarso vestia de linguajar econômico a velha história do bode na sala. A inflação foi o bode introduzido em uma sala já apertada, em que uma família vive mal. Retirado o bode e seu cheiro, o aperto continua, mas o alívio nota-se de imediato.
Agora, o PT corre sem rumo atrás do prejuízo. Atacar a aliança do PSDB com o PFL é bobagem dupla. Primeiro, porque é uma crítica que só faz sentido para a parcela politizada do eleitorado, que, salvo uma ou outra exceção, já decidiu o seu voto. Ou engole a aliança com casca e tudo e vota em FHC ou a repudia e vota em Lula, mesmo que este não ataque a coligação adversária.
Segundo, porque o efeito eleitoral da coligação tem sido até agora reduzido, como o demonstram as pesquisas. O avanço de FHC e concomitante queda de Lula se devem ao real e não ao PFL.
Agora, o PT, com as pretas, fica na dependência de fracassar, muito ou pouco, a principal jogada das brancas (o real). Ou do imponderável, fator que nem sempre surge em campanhas eleitorais.

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