São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 1994
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O patômetro apita

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Quando um candidato afirmar que financia sua campanha com dinheiro do próprio bolso, até pode ser verdade. Mais provável, porém, é que ele faça apitar histericamente o patômetro –indicador que mede quando um candidato tenta transformar o eleitor em pato.
Em entrevista ontem aos repórteres Gabriela Wolthers e Tales Faria, da Folha, o tesoureiro do PTB, Gastone Righi, revelou uma nova modalidade de fraude, disfarçada pela desculpa de que o dinheiro sai do bolso do candidato.
Segundo ele, os financiadores não pedem bônus eleitorais. Apenas dão o dinheiro. Por algum motivo (e não deve ser dos melhores), não querem aparecer. Uma brecha da lei eleitoral permite a jogada.
Ao fazer sua prestação de conta, o candidato pode justificar R$ 354 mil como extraídos de seu patrimônio. Esconde-se assim a fonte de financiamento. E confia-se que, no futuro, a Receita Federal não vai incomodar.
A entrevista de Gastone, na sua autoridade de tesoureiro, somada à reportagem da Folha sobre a fraude dos bônus que tiraram ontem do mapa a candidatura Flávio Rocha, mostra que ainda estamos muito longe da transparência eleitoral.
Depois da derrocada de Fernando Collor e seus financiamentos clandestinos, passando pela CPI do Orçamento, buscava-se uma espécie de seguro contra pressões clandestinas nos homens públicos.
Óbvio que jamais se conseguiria transparência total, mas que, pelo menos, reduzisse a taxa de incerteza sobre como atua o poder econômico. Seria menos difícil a identificação de lobbies que, num primeiro momento, usam dinheiro privado para financiar candidaturas, mas aguardam mesmo um retorno público.
PS – Pelo menos três confiáveis funcionários do alto escalão da Esplanada dos Ministérios informaram ontem a esta coluna que se desencadeia uma forte pressão para inibir auditoria destinada a encontrar os responsáveis pela distribuição de senhas clandestinas. As senhas davam acesso à folha de pagamentos. Indício: só em junho deste ano, segundo dossiê concluído esta semana, 980 funcionários estavam com salários irregulares, acima do de ministro. Alguns chegavam a R$ 12 mil líquidos.

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