São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
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Pare de reclamar, aja

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – É com você, que cansou de desancar os políticos e agora, com o horário eleitoral, deve estar morrendo de tédio e preparando o espírito para votar em branco ou rabiscar um palavrão na cédula. Já parou para pensar que a culpa é muito sua?
Não há nada mais fácil e cômodo do que criticar os eleitos e esquecer que, se o foram, é porque alguém, como você, votou neles.
Que tal pensar um pouco em ir além do voto e interessar-se pelo que acontece depois, na hora em que os eleitos assumem os seus cargos?
Difícil? Talvez. Mas já há gente tentando esse caminho, o único possível para que, aos poucos, se vá melhorando a qualidade dos chamados representantes do povo.
Exemplo: o movimento "Voto Consciente" de São Paulo acompanha o desempenho de vereadores e deputados estaduais. Publica até um boletim semestral, que está no seu segundo ano, número 5, avaliando os parlamentares. Ao mérito intrínseco do trabalho, some-se o bom humor de algumas avaliações.
Sobre a Comissão de Política Urbana, Metropolitana e do Meio-Ambiente da Câmara Municipal paulistana, o boletim mais recente diz: "A comissão dá a impressão de que só as mulheres trabalham e os homens se omitem". Para justificar, cita a presença constante das vereadoras Zulaiê Cobra Ribeiro (PSDB), presidente da comissão, e Aldaíza Sposati e Tereza Lajolo (ambas do PT), enquanto outros vereadores são "quase sempre invisíveis".
O "Voto Consciente" é apartidário, o que fica evidente nos artigos de opinião da capa. Escrevem Marcos Cintra (PL) e Almir Guimarães (PTB).
A iniciativa já não é isolada ao menos no Estado de São Paulo. Funciona um comitê semelhante em Campinas e Jundiaí está organizando o seu.
Em carta à Folha, a presidente deste último, Maria Carolina Gotardo Oliveira, explica: "Temos tanto zelo com as coisas menores que compõem nossa vida e, paradoxalmente, aceitamos votar em qualquer um, depois de meia-dúzia de palavras bonitas e outras tantas promessas. Nem conferimos, a cada eleição, se os eleitos cumpriram ou não".
Nada mais inútil do que chorar o leite derramado.

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