São Paulo, sábado, 13 de agosto de 1994
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como ser aposentado e feliz

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Qualquer partido que chegue ao Palácio do Planalto, seja PT ou PSDB, terá de mexer no buraco sem fundo do funcionalismo público. Documento oficial obtido ontem pela Folha mostra até onde vai a baderna.
Técnicos do Ministério da Previdência Social calcularam as aposentadorias do setor público. No Judiciário, a média é de 36,6 salários mínimos por mês. No Legislativo, 36,2. Executivo: 5,4 mínimos.
O cidadão comum está longe desse patamar: 1,8 salário mínimo. Sua diferença com os servidores do Legislativo e Judiciário é de "apenas" 20 vezes.
É só um detalhe da bomba que, mais cedo ou mais tarde, vai explodir. Este ano, os aposentados e pensionistas do setor público custam R$ 9 bilhões.
Cerca de 40% da folha de pagamentos do governo federal são destinados a inativos e pensionistas. Esse volume cresce a cada ano, graças ao festival de irresponsabilidade. Um professor universitário é capaz de se aposentar antes de completar 50 anos de idade. Existe um caso no Paraná, talvez um recorde mundial: uma professora se aposentou aos 35 anos de idade.
Há um estímulo à aposentadoria. Quando o indivíduo se aposenta, ele passa a ganhar mais 20% de seu salário. Muitos professores universitários, por exemplo, prestam concurso e voltam a dar aulas –alguns deles, aliás, se apresentam em artigos e cartas aos jornais como paladinos da moralidade.
Lembre-se que os fundos de pensão das estatais são patrocinados em larga margem com recursos públicos –daí saem aposentadorias milionárias. E investimentos no mínimo duvidosos.
A "esquerda" adora falar em "apartheid social" –e é, de fato, o grande problema brasileiro. Só esquece de falar como a aristocracia do funcionalismo, travestida numa visão "progressista", reproduz, na prática, as crônicas mamatas do baronato.
PS – Reconhecimento. Nesta semana fiz uma série de reportagens sobre desvios no funcionalismo. Apesar de seu curto período no Ministério da Administração, Luiza Erundina, do PT, deixou encaminhadas investigações e projetos que atingiram a banda podre do corporativismo. Graças a ela, criou-se mais tarde, por exemplo, a auditoria sobre os "fantasmas" que tinham acesso à folha de pagamentos.

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