São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Nem Lula vai africanizar o Brasil

Folha - Na reforma administrativa, o que o sr. vai combater?
FHC - A massa de funcionários federais existente é moderada. O inchaço do funcionalismo se deu no município.
Com a Constituição de 88, aumentaram os recursos para os municípios e aumentou muito o número de funcionários nos municípios. Você não tem um mundo moderno sem você ter um Estado que funcione.
Eu acho que hoje no Brasil há três dimensões que nós temos que tomar em consideração. Primeiro, que essa sociedade hoje é democrática.
Sociedade desigual, mas há liberdade. A outra é que isto aqui é uma sociedade de economia de mercado. Imperfeita, mas é uma economia de mercado e o mercado reage muito rapidamente.
E a terceira é que uma sociedade assim não funciona se não tiver um Estado eficiente. Essa discussão de Consenso de Washington e outras bobagens que estão pondo aí não tem sentido. Não existe proposta neoliberal que se mantenha neste país.
Folha - Existem analistas que acham que o capitalismo está numa fase que se caracteriza por ser muito excludente do ponto de vista social. A opção de países pobres seria virarem sócios menores dos EUA, como está acontecendo com a Argentina, ou se africanizarem. E no Brasil se associa a sua candidatura à opção argentina e Lula à africanização. O que o sr. acha?
FHC - Há uma ponta de verdade nisto. A forma moderna de produzir é excludente. Mas também tem o outro lado: ela é geradora de renda em alta proporção. Daí a necessidade do Estado de novo.
O Brasil tem uma renda per capita dez vezes maior do que a de um país subdesenvolvido da África. Já não tem como africanizar o Brasil. Nem o Lula vai africanizar. O Brasil também não é argentinizável. Temos que pensar o Brasil como se pensa a China e a Índia, em termos de grandes espaços continentais.

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