São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Nenhum grupo de mídia me apóia

A campanha está pobre. Conte osoutdoors meus e dosoutros. Pode contar
Folha - Senador, e o apoio da Rede Globo?
FHC - Não teve. Aliás, uma coisa eu posso lhes dizer com uma certa tranquilidade: eu até acho bom. A candidatura minha até agora não foi puxada por nenhum grupo de imprensa...
Folha - Mas há uma benevolência bem maior de grande parte da mídia com a sua campanha do que com as outras.
FHC - Não, sei, eu não vejo isso não. No caso da Folha especificamente eu não vejo.
Folha - Eu estou falando da imprensa em geral.
FHC - Se há um órgão com o qual eu tenho relações é a Folha. Você sabe que eu sou amigo de seu pai (Octávio Frias de Oliveira, acionista majoritário da empresa que edita a Folha) e gosto muito dele. E é recíproco. Eu colaborei anos com a Folha.
Folha - É verdade, senador. FHC - Eu não sinto este apoio.
Folha - Mas eu falava da imprensa de uma maneira geral...
FHC - Mas eu quero discutir a Folha sim senhor. Se a Folha estivesse fazendo algum protecionismo... Eu nunca usei as minhas relações pessoais para pedir nada. E se eu não peço à Folha eu não peço aos outros.
Folha - Mas e o Galvão Bueno, durante a Copa, anunciando o real...
FHC - O que eu estou dizendo é outra coisa. Algumas instituições de imprensa aqui são governistas. Mas eu e a minha campanha não nos baseamos nisso.
Nem nisso e nem em grupo econômico. Por sorte a campanha está pobre. Não tem campanha. Conte os outdoors meus e os dos outros. Pode contar. Veja os santinhos. Não tem nada.
Folha - E o jatinho.
FHC - Ah! Jatinho todos têm.
Folha - Então não dá para dizer que é uma campanha pobre.
FHC - É pobre em comparação com qualquer outro critério de campanha. Nós imaginávamos que íamos gastar US$ 6O milhões. Se eu conseguir a terça parte disso, eu estou feliz.
Mas isto é bom. Porque não tem ligações que me amarram em nenhum sentido, nem com a imprensa, nem com empresas, nem com nada.
Folha - Senador, já que a gente falou da Folha, como é que o sr. vê aqueles episódios controvertidos em que houve declarações suas, que o sr. contestou e...
FHC - Sabe qual é o problema principal? É tirar do contexto. O problema principal com a Folha é que a Folha tem uma falsa objetividade. A verdade é essa. É uma falsa objetividade. Tira do contexto. Você disse aquilo, disse. Mas tira do contexto.
Folha - Mas houve um caso de contestação de literalidade e havia a fita gravada, o caso das "boas intenções".
FHC - Não quer "apenas" boas intenções, é claro que na hora eu não falei o 'apenas', mas o sentido era esse, obviamente.
Eu não disse, mas estava implícito. E aí fica: o povo não quer boas intenções. É má-fé pura. Uma falsa objetividade. Você diz: 'Olha, está aqui a sua fita, você gravou'. A Folha faz muito a leitura althusseriana do silêncio.
Folha - Mas a literalidade, no caso, estava correta.
FHC - Mas a literalidade não vale nestas coisas.
Folha - Mas um repórter tem que se prender à literalidade.
FHC - Não pode. Não é o repórter, é o editor. O editor é mais lido do que o repórter.

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