São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Lula é maior que o PT, que é regressivo

Eu não erro o português. Às vezes eu erro, mas não de propósito
Folha - O sr. tem a imagem de uma pessoa que não gosta de dizer não. Uma pessoa de temperamento conciliador. Isto não poderá ser um problema se houver algum processo, digamos, de sarneyzação de um eventual governo seu?
FHC - Isto era mais dramático no Ministério da Fazenda. Eu disse não sem parar e disse amavelmente. Ao Congresso, aos sindicatos, aos governadores. É que as pessoas confundem educação com falta de firmeza.
Eu não fui grosseiro com ninguém. Eu disse não ao Antônio Carlos (Magalhães), ao Brizola, que não são fáceis de dizer não.
Folha - No processo de construção da candidatura houve um namoro, prolongado até o início deste ano, com o PT. Onde fracassou?
FHC - O PT sempre quis uma aproximação, especialmente com o Tasso (Jereissati), imaginando que o Tasso podia ser um bom vice para o Lula.
Mas o PT nunca encara outra hipótese a não ser o PT na frente. Eu acho o PT regressivo, ele não tem uma visão para frente, não é vanguarda. É uma utopia regressiva.
O PT se considera predestinado a exercer o poder hegemonicamente. O Lula é maior que o PT. Mas o Lula dá ao PT a ilusão de poder chegar ao governo, porque fora disso o PT não poderia nem ter essa idéia.
Folha - Senador, como o sr. reage às críticas de que na verdade o sr. não precisaria fazer campanha porque quem está fazendo a campanha é o real e que seria até melhor o sr. não fazer campanha porque a tradição do PSDB é de ir mal nas campanhas.
FHC - No começo do ano eu tinha 6%. Em março, eu tinha 11. Quando eu me apresentei como candidato, pulei para um patamar entre 15 e 20, dependendo da pesquisa.
Eu não parei de subir, antes do real. O real acentuou, mas a tendência estava ali.
Esta história que nós não temos que fazer campanha não é verdadeira. Estamos fazendo comícios enormes. E eu não sou, nunca fui muito adepto de comício e nem é onde eu me sinto melhor.
Inventaram que eu tenho dificuldade, que eu falo difícil com o povo. Isso é uma mentira. Eu não erro o português. Às vezes eu erro, mas eu não erro de propósito.
Eu não sou de fazer, digamos, concessões populistas, mas eu sou afável com todo mundo e isso passa. Me gozaram tanto do cavalo e coisa. Ali foi uma gentileza minha, não foi nenhum marqueteiro que mandou fazer nada.

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