São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994 |
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Comparação com Sartre é absurda Sérgio Motta não cuida das finanças da campanha. É um administrador Folha - Eu gostaria que o sr. esclarecesse o papel exato do presidente do seu partido, Sérgio Motta... FHC - Presidente não, secretário-geral... Folha - ...secretário-geral na sua campanha, porque ele é uma figura controvertida. E porque chegam até desafetos do sr. a sugerir, acredito que injustamente, que ele seria o PC do FHC. FHC - Em primeiro lugar, quem é o Sérgio Motta do ponto de vista político? É um sujeito que sempre militou à esquerda. Ligado ao jornal "Movimento" e às causas progressistas. Em segundo lugar, é um militante do PSDB. Ativíssimo como militante, dedicado ao partido. Esteve sempre nas campanhas minhas, do Mário Covas, do Serra. E ele tem uma enorme capacidade gerencial. Foi eleito e agora reeleito secretário-geral do partido. Ele é um quadro e, por outro lado, é "manager" (gerente). Ele tem uma empresa de projetos, eu nunca pedi nada a ninguém por essa empresa, nem ele nunca me pediu que o fizesse. Nunca houve nenhuma relação entre a atividade econômica dele e a atividade política. Não tem nada a ver com o PC. O PC utilizou o Estado para ganhar dinheiro e para roubar. Folha - Ele tem algum papel de conduzir o financiamento de sua campanha ou não? FHC - Não. Ele tem papel do ponto de vista administrativo da campanha, o de tocar a campanha. Não tem nem papel de "to raise founds" (levantar fundos). Isto está na mão de outro setor. Folha - O que o sr. achou da comparação com o Sartre? FHC - Ah! Não tem cabimento. Eu não sou Jean-Paul Sartre. Folha - Qual é a diferença entre o sr. e o Sartre?. FHC - Meu Deus, do zero ao infinito. O Sartre é um dos maiores pensadores da época dele. Folha - Mas do ponto de vista de um intelectual que de alguma maneira se envolve na ação política... FHC - Isso no Brasil é tradicional. Você veja que alguns dos melhores intelectuais do Brasil são políticos. Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Florestan Fernandes. Em certos tipos de países não existe ainda essas especificidades de funções. Folha - Por que a grande maioria dos intelectuais brasileiros parece ser petista? FHC - Eu acho que é porque tem essa aura do PT como um partido que vem de trabalhadores. Eu acho que o PT teve uma importância grande em colocar reivindicações, em recolher experiências das lutas sindicais dos anos 70. O Lula pessoalmente teve um papel destacado nisso. Texto Anterior: Lula é maior que o PT, que é regressivo Próximo Texto: Collor abriu a agenda, mas se arrebentou Índice |
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