São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Reforma tributária é o primeiro passo

Minha experiência éque o Congresso nãoé obstáculo paranenhum governo
Folha - Caso eleito, qual seria a sua primeira medida de governo?
Luiz Inácio Lula da Silva - Mandar para o Congresso Nacional projetos que significassem as reformas estruturais. Eu dou como exemplo a questão da política tributária.
Se você não tiver uma correção no processo de arrecadação para ter dinheiro para investir, você não consegue tirar este país da fase em que ele se encontra.
Outra medida seria resolver de imediato os investimentos para a saúde, que caíram de maio de 89 até agora. Nós teríamos que retomar, no mínimo, o patamar de 1989 (US$ 13,13 bilhões), que caiu para US$ 7 bilhões e para US$ 9 bilhões agora.
A questão da educação é outra coisa que nós temos que resolver de imediato. Tentar estabelecer, no primeiro momento de governo, os critérios necessários para colocar as crianças na escola sem a construção de prédios, porque não há dinheiro para construir.
Folha - Essas idéias seriam enviadas como projeto de lei ou como medida provisória?
Lula - Tudo o que você puder mandar via projeto, tem que mandar via projeto. O que precisa é que você tenha a habilidade de conversar antes com os segmentos da sociedade.
Estou convencido de que, se nós juntarmos os setores organizados da sociedade e acertarmos uma coisa pelo menos próxima do consenso, o Congresso aprova com facilidade.
A minha experiência no Congresso Nacional é que ele não é obstáculo para nenhum governo.
Os governantes é que tratam de forma inábil as suas relações com o Congresso, mas tudo o que o governo quer ele aprova. Toda vez que o governo joga com seriedade ele consegue aprovar.
Folha - Às vezes tendo que dar muita coisa.
Lula - O 'dar muita coisa' é porque não existe corrupto sem corruptor. Em todos os debates que eu tenho feito, percebe-se que entre um amplo segmento da sociedade existem pontos comuns sobre a necessidade de uma política tributária nova.
Folha - O sr. chama quem para discutir?
Lula - O que nós queremos é acabar com a política de, na hora que você tiver um projeto, manda todo o ministério para o Congresso para liberar verba para os deputados.
Se você, ao invés de ficar brigando com o Congresso, pegar as entidades dos empresários, dos trabalhadores, a CNBB, a OAB, os dirigentes partidários mais representativos e estabelecer um ponto comum, a tendência natural é esse projeto fluir com uma certa rapidez no Congresso Nacional.
O meu pressuposto é que eu vou governar em maioria. Ou você faz a maioria durante o processo eleitoral ou você faz a maioria dentro do Congresso. Eu sou muito mais favorável às maiorias pontuais do que à maioria permanente.
Acho que você tem que estabelecer os quatro ou cinco grandes projetos e negociá-los no primeiro mês de governo, se possível negociar até antes, mesmo porque você já sabe quais são os partidos que elegeram deputados, quais as figuras mais importantes de cada partido político.

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