São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Estado não sabe cuidar do dinheiro

Folha - Negociar com os empresários uma reforma tributária sempre é ouvir só uma coisa: menos imposto...
Lula - Nós também queremos menos impostos. Queremos que o Estado tenha menos impostos, tenha simplificada a forma de recolher, mas que o Estado recolha.
Nós queremos acabar com essa história de o Estado brincar de ter uma política tributária e as pessoas brincarem de pagar. Você pode ter menos tributos e simplificar a forma de recolher para que as pessoas possam pagar.
Hoje, o que acontece com o cidadão que quer montar uma pequena indústria? A primeira coisa que ele faz é contratar um advogado tributarista para ensiná-lo como fugir dos impostos. Então, eu prefiro ter menos impostos e arrecadar mais.
Folha - A carga sobre o salário é hoje uma reivindicação constante por parte dos empresários. Para cada empregado contratado você paga mais 110% ou 120% em cima. Isso é negociável?
Lula - Se os empresários estiverem dispostos a discutir o contrato coletivo, pode-se discutir a questão dos encargos sociais.
Eu prefiro o trabalhador consumidor todos os dias em vez de consumidor apenas uma vez na vida, quando é mandado embora.
Tudo o que ele puder receber no seu contracheque é melhor do que ele esperar para receber quando for mandado embora.
Mas só é possível fazer isso com o contrato coletivo, para que você estabeleça critérios de dispensa, como existe nos países desenvolvidos.
Quando foi implantado o Fundo de Garantia eu dizia: ao invés de depositar 8% para quando eu for mandado embora, por que não coloca esse dinheiro no meu bolso?
Eu lembro que, na fábrica, o chefe dizia assim: é, mas se der a vocês o cara vai tomar cachaça. Ora, o Estado parte do pressuposto que ele cuida do dinheiro melhor do que o dono do dinheiro?

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