São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994 |
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Governo será mais amplo que o PT Privatizar nãoé uma questãode princípio,mas de estratégia Folha - A iniciativa privada também não administraria as estatais melhor do que o governo? Lula - Eu acho que o Estado brasileiro não pode servir como parâmetro para um futuro governo. Já se criou empresa estatal demais. Privatizar ou estatizar não é uma questão de princípio, mas de estratégia, de soberania. O que é estratégico hoje pode não ser daqui a cinco anos. O que nós não concordamos é com o que estão fazendo com a Embraer. Você não pode afundar uma indústria de ponta como a Embraer para justificar a sua privatização. Folha - Voltando um pouco à primeira questão, queria insistir com o sr. se existe uma medida que simbolicamente elegeria como sua primeira medida de governo. Lula - Uma coisa simbólica para nós é a política agrícola, a fome. Mas primeiro quero dizer que não acredito que você consiga acabar com nenhum dos problemas do Brasil num dia. O que nós queremos é apontar quais são as grandes coisas que nós vamos atacar. Precisamos começar o governo anunciando que o crédito agrícola será para o pequeno e médio produtor agrícola. No primeiro momento, vamos resolver o problema dos assentados que estão acampados hoje. É uma vergonha nacional você ter 50 mil pessoas à beira das estradas num país com a quantidade de terras que tem o Brasil. A outra coisa é a questão do combate à fome. O projeto que entregamos ao Itamar não termina com a política de solidariedade. Tem metas de geração de empregos. O Itamar não fez nada. Então, temos que continuar com a campanha de solidariedade para garantir que as pessoas possam comer no mínimo três vezes ao dia, e temos que ver todas as fontes de investimentos que possam gerar empregos imediatos. Falar de agricultura não significa apenas dar terra. Significa dar a terra e condições de produção. Num debate agora em Jales (SP), o presidente da cooperativa disse o seguinte: 'Olha, Lula, se houver investimento nas propriedades de 10 a 100 hectares, cada uma pode gerar imediatamente três empregos. Nós estamos colocando apenas um no nosso programa'. Se nós temos 2,16 milhões de proprietários de 10 a 100 hectares, você imagina o que isso poderia dar de retorno num curto prazo de tempo? Folha - Imaginemos que o sr. já tem o seu ministério na cabeça. Uma vez, logo depois do impeachment do Collor, o sr. disse que o presidente Itamar Franco deveria constituir um ministério com 12 Jatenes ou 12 Pelés. Essa idéia persiste. Sua primeira nomeação é o Mercadante como ministro da Economia? Lula - Não, não, não, não. Todo candidato tem em mente o time que ele quer colocar em campo. Você não vai deixar para pensar essas coisas no dia 29 de dezembro. Mas você tem alianças políticas e quer fazer novas alianças. Sempre defendi a idéia de que seria prudente mostrar o ministério no mínimo uns 15 dias antes das eleições para o povo saber qual é o time que vai entrar em campo. Isso se fosse o PT sozinho na campanha. Agora, o PT tem outros aliados. Eu só posso apresentar o time se for verdadeiro. E tenho dito publicamente que, para governar o Brasil e fazer as reformas estruturais, nós precisamos de mais gente do que o PT. Texto Anterior: Estado não sabe cuidar do dinheiro Próximo Texto: Fazenda não precisa ser de economista Índice |
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