São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Fazenda não precisa ser de economista

Folha - Vai haver empresários no ministério?
Lula - Certamente haverá, como certamente haverá gente de fora do PT, de fora de outros partidos políticos.
A concepção que o partido tem hoje é a de que nós precisamos montar um ministério que seja representativo da sociedade brasileira, que sejam pessoas qualificadas do ponto de vista político e do ponto de vista técnico. É preciso combinar as duas coisas.
Folha - O sr. acha que ainda há espaço para um convívio no governo com o PSDB, mesmo que o segundo turno seja entre o sr. e o senador Fernando Henrique?
Lula - Terminadas as eleições, nós temos que sentar e ver o que é melhor fazer pelo Brasil. Nós tivemos uma experiência muito rica aqui em São Paulo.
Nós procuramos fazer coalizão no último ano de mandato, quando ninguém mais estava a fim. Isso deveria ter sido procurado no primeiro dia.
Folha - Muita gente no PT diz que o Ministério da Fazenda deveria ser ocupado por um não-economista. O sr. também acha isso?
Lula - Eu não acho nada. Não acho que necessariamente tenha que ser por um economista. Não é uma questão de princípio.
Sempre achei inexplicável que o Ministério do Trabalho não tenha assento no Conselho Monetário Nacional. Nas grandes decisões da economia, o Ministério do Trabalho, o da Saúde, deveriam estar presentes, porque são áreas vitais para a sociedade brasileira.
Folha - Como é que se pode gerar empregos e aquecer a economia sem reaquecer a inflação?
Lula - A tese do PT sempre foi a de tentar reduzir a inflação de forma duradoura, porque os assalariados são uma grande vítima da inflação. A classe média, por mais que perca com a inflação, aplica o seu dinheiro numa conta remunerada e, se a inflação der 50, para ela vai ser dez ou oito.
Já o cidadão que recebe o seu salário, que não tem nenhuma conta no banco, esse é que é vítima da inflação.
Primeiro é preciso enxugar o Estado, ou seja, é preciso dotar o Estado de responsabilidade para gastar apenas aquilo que é essencial e na coisa vital.
Nenhuma obra pode ser feita se não for prioritária. Você não vai inventar obra para poder sustentar empreiteira. Eu utilizo muito uma frase do Jatene: 'Em vez de construir um novo hospital, nós temos que criar um pouco de juízo e equipar os hospitais existentes, colocá-los para funcionar de forma adequada'.

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