São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994 |
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Ainda não mexemos no sistema financeiro Folha - O Estado, então, investe errado? Lula - O Estado investe errado, não investe nas questões sociais. Você pega a questão da saúde, da agricultura, da educação. São coisas em que o Estado não tem cumprido sequer a Constituição. Para se criar o Fundo Social de Emergência, se tirou dinheiro da educação, da saúde e da habitação popular, que são três setores vitais no nosso país. O argumento de que você não pode aumentar o salário mínimo porque estoura a Previdência, eu ouço desde que tinha 23 anos de idade e entrei no sindicato. Por que a Previdência está falida? Primeiro, por um problema estrutural. Não somos mais um país de jovens como éramos em 1960. Hoje você tem uma população vivendo um pouco mais e, portanto, o cidadão fica mais tempo recebendo o benefício da Previdência. Se você quiser resolver o problema da Previdência, você precisa primeiro aumentar a oferta de empregos para aumentar o número de contribuintes e, segundo, acabar com a sonegação. Folha - Dá para concluir então que a política do atual governo em relação à inflação está correta e o que está incorreto é o aspecto social? Lula - Quando as pessoas perguntam de moeda, nós não temos nada contra a moeda. Aliás, para mim, se for cruzeiro, dólar, libra esterlina e der para comprar o que comer, não tem problema. O nosso problema é com os pressupostos que causaram prejuízo às pessoas. Tanto a implantação do Fundo Social de Emergência quanto a média dos quatro meses da URV para os salários, sem nenhum controle de preços, foram prejudiciais. É só você ver a distância que ficou a cesta básica do salário mínimo. Não adianta fazer propaganda agora que está baixando. É preciso saber o quanto custava antes do começo do plano. A segunda coisa é que nós ainda não mexemos em duas coisas cruciais no Brasil: os oligopólios, para os quais é preciso ter regras mais definidas, e a questão do sistema financeiro. Nós precisamos dotar o sistema financeiro das condições objetivas de sobreviver, colocando todos os seus recursos para financiar a produção. O Estado precisa discutir a questão da dívida interna com mais carinho com o sistema financeiro. No Brasil a política adotada é sempre a política do 8 ou 80. Ou eu pego eles de calças curtas à meia-noite ou eu não faço nada. E eu acho que hoje há um campo enorme para você sentar e conversar uma saída para dar ao Estado capacidade de investimento. Texto Anterior: Fazenda não precisa ser de economista Próximo Texto: Ministério da Defesa deve ser implantado Índice |
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