São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994 |
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Ministério da Defesa deve ser implantado Folha - O sr. conseguiria resumir qual a sua atitude em relação às privatizações? Lula - Os setores considerados estratégicos –e eu vou dar dois principais: petróleo e telecomunicações- nós não iremos privatizar, a não ser que daqui a alguns anos não sejam importantes como hoje. Na questão das telecomunicações, o Estado deve continuar tendo o controle. O Estado pode fazer concessões na produção de equipamentos, como faz hoje. No setor hidrelétrico, você pode trabalhar em parceria. Eu tenho dito aos empresários: por que vocês querem privatizar o que existe e não se propõem a construir o que falta? O que é preciso é tirar essa questão da privatização da guerra ideológica, ou seja, do Estado nada presta e da empresa privada tudo é bom. O que não for estratégico é privatizável. Folha - O sr. pretende levar adiante a privatização das outras áreas? Pretende acelerar ou retardar o ritmo? Lula - Vamos fazer um estudo muito sério, uma auditoria inclusive, em algumas coisas que já foram privatizadas. Mas não há nenhum interesse de recomprar determinadas coisas. Folha - O sr. dá a sensação de acreditar que o simples fato de mudar o presidente faz o governo como um todo tornar-se sério. Não é voluntarismo? Lula - Não. Eu acredito nisso. Acho que são o presidente e o seu primeiro escalão que dão ritmo à máquina. Quem mais do que nós tem autoridade para sentar com o funcionalismo público e estabelecer regras? Quem? Folha - Vocês têm autoridade, mas vocês são também vistos como reféns da burocracia... Lula - Não existe refém. O que nós queremos é que a máquina funcione. Acabar com a história de que o governo finge que paga e as pessoas fingem que trabalham. Quando eu digo que eu sou favorável à estabilidade é porque eu sonho com uma máquina pública profissional. Ela tem que funcionar independente do partido, do presidente da República ou do governador... Folha - Estabilidade para todos? Lula - Não é necessária a estabilidade na Constituição. A estabilidade tem que estar no compromisso da profissionalização da máquina. É preciso, primeiro, concurso público com a maior seriedade. Segundo, diminuir os cargos de confiança. Folha - O sr. tem posição sobre o Ministério da Defesa? Lula - Eu sou favorável. Deveremos fazer gestões para tentar implantá-lo o mais rápido possível. Folha - O sr. se diz socialista, mas cita exemplos da social-democracia... Lula - Eu não gosto de rótulo. Sonho com uma sociedade socialista. Se eu traduzir isso, você pode dizer que é uma sociedade como a da Dinamarca ou da Suécia. Quando eu digo que eu me considero socialista é porque eu sonho com uma sociedade onde os frutos do trabalho sejam distribuídos de forma justa. O padrão de vida para o meu mundo socialista é o padrão da Dinamarca. Ali você nota que as pessoas comem bem, vivem bem, têm um nível de educação e saúde fantástico. Texto Anterior: Ainda não mexemos no sistema financeiro Próximo Texto: Acho FHC um grande intelectual Índice |
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