São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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PFL do B

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na última quarta-feira, Itamar Franco recebeu Marco Maciel em seu gabinete. Falaram sobre muita coisa. A conversa deslizou fácil. Consumiram-se mais de 30 minutos.
Um comentário específico de Itamar chamou a atenção de uma testemunha do diálogo. Em dado momento, o presidente disse que, na posição de cidadão, apóia Fernando Henrique.
E, como se desejasse mandar um recado ao PFL do interlocutor, arrematou: "Mas, como presidente, não permitirei que usem o governo na eleição".
Itamar tem repetido o raciocínio à exaustão. Sua pregação não resistiu, porém, a um mergulho feito pela reportagem da Folha nos computadores do governo.
Longe do prometido apartidarismo, os cofres de Brasília parecem ter aderido à candidatura oficial de Fernando Henrique. O governo derrama dinheiro sobre o eleitor.
Em crise, o PT tomou um susto com o salto do candidato tucano nas pesquisas. Espantou-se especialmente com o avanço de Fernando Henrique no Nordeste, último reduto de Lula.
Imaginava-se que apenas o Plano Real tivesse vitaminado a candidatura do rival. Surge agora um dado novo. Além de criar a nova moeda, o governo a distribui com suspeita voracidade.
A média mensal de repasses de verbas foi multiplicada por sete. O investimento é tipicamente eleitoreiro.
Compram-se ambulâncias e ônibus escolares, asfaltam-se ruas, instalam-se consultórios de dentistas. Tudo isso às vésperas da eleição.
Entre os dez Estados mais beneficiados estão Bahia e Pernambuco, de onde Lula arranca mais votos do que o adversário. Suspeito, muito suspeito.
Às claras, Itamar Franco promete um comportamento de estadista. Na penumbra, seu governo descamba para o fisiologismo mais rasteiro.
Convidado a ingressar no governo Collor, o PSDB balançou. Fernando Henrique era, então, um entusiasta da idéia. O partido foi contido por Mário Covas.
Entre as condições que o PSDB impôs a Collor, estava o afastamento de Ricardo Fiuza da pasta da Ação Social. Acusavam-no de práticias fisiológicas e clientelistas.
Hoje, Fernando Henrique é beneficiário dos métodos que seu partido condenou. As diferenças entre tucanos e pefelistas não são, afinal, tão grandes.

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