São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Ex-capitão da PM vira guerrilheiro no Peru

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI ; MARCELO GODOY
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

MARCELO GODOY
O homem mais procurado pela Corregedoria da PM de São Paulo é um ex-capitão, treinado em luta antiguerrilha nos quartéis e que hoje a polícia acredita estar no Sendero Luminoso (grupo terrorista peruano).
A busca por Benedito Oliveira, 47, no Sendero é mantida em sigilo pela PM e foi repassada a juízes e promotores do TJM (Tribunal de Justiça Militar).
Benedito, como é conhecido na PM, fugiu do presídio militar Romão Gomes (zona norte de São Paulo) em 26 de maio de 1990.
Pulou a cerca da "ala familiar" da prisão e entrou na mata fumando seu inseparável cachimbo.
Herói da PM e o seu melhor instrutor de luta antiguerrilha, Benedito foi condenado pelo assassinato de uma criança de quatro anos e por tentar matar uma mulher.
Bem falante, 1,71 metro de altura, autodidata em inglês e formado em Direito, o ex-capitão trabalhou por sete anos no COE (Comando de Operações Especiais).
Segundo o tenente-coronel Alexandre Farrath, 49, seu ex-comandante, Benedito planejava sair do país para "ganhar a vida como mercenário em algum dos cartéis da América do Sul".
O ex-capitão teria ficado cerca de 15 dias em São Paulo antes de sair do país pela região norte.
Dois oficiais da Corregedoria da PM ouvidos pela Folha dizem que a informação da presença do ex-capitão no Sendero foi obtida com a interceptação de cartas que ele teria remetido à sua família.
O general peruano Tomás Marky Montero, 51, confirmou à Folha que mercenários brasileiros, colombianos, equatorianos e bolivianos são procurados no distrito peruano de Ayacucho, a 850 km de Lima, capital do país.
"O Sendero conta com 400 soldados que têm o suporte econômico de narcotraficantes", diz o general. Alberto Durand, o Camarada Feliciano, é o líder do grupo.
Perguntado sobre a presença de Benedito no Sendero, o general disse que não tem nomes específicos, mas sabe que pessoas "bem treinadas como o ex-capitão estão sendo recrutadas pelo Sendero".
Montero disse que esses homens treinam terroristas em montanhas de 2,3 mil metros de altitude. "Já trocamos informações com o governo brasileiro sobre isso."
O promotor Marco Antônio Ferreira Lima, do TJM, participou da reunião onde o coronel Luís Perine, chefe da corregedoria, disse que Benedito estava no Sendero.
"Ele foi taxativo: o ex-capitão está no Peru." Oficialmente, a PM afirma que isso é "apenas uma suspeita, um boato".
Desde sua fuga, em 90, Benedito não teria feito qualquer contato com sua família, afirma a mãe do capitão, Benedita Cândida de Oliveira.
"Um amigo me disse que viu o Benedito andando em Ciudad del Este, no Paraguai", conta a mãe.
Nos últimos quatro anos, os homens da Corregedoria da PM seguiram os parentes de Benedito em busca de pistas do ex-capitão.
Sua ex-mulher, Olímpia Soares de Araújo, 40, disse que a polícia vigiava até quando sua filha telefonava para amigos de um orelhão.
"Eles me seguiram até junho de 93", disse. Foi naquela época que os promotores foram informados de que Benedito estava no Sendero Luminoso.
"Ele fugiu do país. O Benedito não subestimaria a corregedoria, que está atrás dele", disse o tenente-coronel Farrath.
Sebastião de Oliveira, 45, irmão do ex-capitão, disse ter ouvido dele que os "coronéis da PM" não o pegarão vivo. "Para atirar nele, só se o pegarem dormindo."

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