São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os ETs e o horário gratuito

LUÍS NASSIF

Entre muitas divergências sobre a campanha eleitoral paira uma certeza: os políticos não aprenderam nada sobre os novos tempos.
O horário gratuito e os programas dos principais candidatos a presidente e a governador demonstram insensibilidade cavalar em relação aos programas de governo e às profundas transformações pelas quais o país passou nos últimos quatro anos.
Só não serão todos derrotados porque a legislação diz que pelo menos um tem que sair vencedor.
A primeira insensibilidade é em relação à maneira como os cidadãos encaram a intermediação política nos atos de governo. Há um cansaço profundo, uma ansiedade latente por regras estáveis, impessoais, participativas de aplicação dos recursos públicos.
A segunda insensibilidade é em relação ao modo de administrar. A revolução gerencial registrada nas empresas, nos últimos anos, introduziu princípios de ação muito nítidas –mas que não foram assimilados pelos políticos que se candidatam à mais nobre das funções administrativas, que é cuidar do bem público.
Nova gerência
O início do processo de abertura da economia, somado ao bloqueio dos cruzados, trouxe à tona as fragilidades das empresas nacionais –de capital nacional e mesmo multinacional.
No início, tentou-se apagar incêndios. Era impossível. A cada incêndio apagado, apareciam mais dois. À custa de muito sacrifício e desafio descobriu-se o que hoje tornou-se verdade óbvia no meio privado: as crises só são debeladas depois que se consegue desenvolver modelos gerenciais eficientes, que permitam tratar dos problemas dentro de uma visão global.
Algumas empresas terceirizaram, outras se associaram, houve as que transformaram departamentos em unidades de negócio, quase todas informatizaram seus dados, ampliando controle sobre custos e faturamento.
Não há uma fórmula única, mas o exercício constante da criatividade e do bom senso, tendo como objetivo criar um modelo funcional de gerência.
A não ser em algumas experiências em municípios menores, os políticos ainda não acordaram para as novas possibilidades da administração pública –magistralmente descritas no livro "Reinventando o Estado" recentemente lançado no Brasil.
Há maneiras flexíveis de aumentar a eficiência das escolas, dos postos de saúde, de tornar o orçamento mais transparente, de pensar as cidades e Estados como unidades empresariais que se diferenciam das empresas apenas no objetivo final: uma visa o bem-estar dos cidadãos, outra privilegia o lucro.
No restante é tudo igual. A criação de indicadores de eficiência, a difusão das informações da administração, a co-gestão de empreendimentos, a criação de sistemas de atendimento aos consumidores-cidadãos, o estímulo à criatividade e à inovação, a descentralização e a parceria, em suma, compõem o mesmo universo das novas técnicas gerenciais, apropriadas tanto ao setor privado quanto ao público.
Funcionalismo federal
O ministro Romildo Cahim, da Secretaria de Administração Federal, entra em contato com a coluna para informar que não pretende ampliar os privilégios do funcionalismo.
A idéia básica, dentro do plano de isonomia acertado entre os três Poderes, é alinhar o salário básico de toda a administração pública –que não é alto. Depois, proceder ao cumprimento do que dispõe a Constituição, que impede salários maiores do que os de ministros.
O cumprimento da Constituição permitirá eliminar os salários abusivos –decorrentes de privilégios negociados acima do salário básico.

Texto Anterior: Bem-estar real
Próximo Texto: Seminário discute o 'regionalismo aberto'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.