São Paulo, domingo, 14 de agosto de 1994
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Região do Zaire tem 800 mil refugiados

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

Mais de 800 mil ruandeses ainda se encontram nos campos de refugiados em Goma, no Zaire. Foi o que afirmou à Folha Fernando Del Mundo, porta-voz do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas.
Ele estima que 5.000 pessoas deixam Goma em direção a Ruanda a cada dia.
"Não há um movimento massivo de volta", disse François Dumaine, da organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras.
A enorme concentração de pessoas em condições sanitárias extremamente precárias abre espaço para o surgimento de inúmeras doenças. Após o cólera e a disenteria, agora pode ser a vez do tifo.
"Isso ainda não está confirmado. Os maiores problemas continuam sendo a fome e a disenteria", disse Dumaine.
Ele ressaltou que o atendimento aos refugiados está mais organizado, mas que persistem problemas na distribuição de comida.
A guerra em Ruanda já pode ter causado a morte de mais de 700 mil pessoas em pouco mais de quatro meses.
Ela opôs as etnias tutsi (que corresponde a menos do que 15% da população) e hutu, e se iniciou após o atentado que matou o presidente Juvenal Habyarimana, em 6 de abril último.
A partir desse dia, os rebeldes tutsis da FPR (Frente Patriótica Ruandesa) passaram a atacar o Exército do país.
Ao mesmo tempo, milícias hutus, armadas geralmente apenas com facões, massacraram milhares de civis tutsis. Muitas crianças foram mutiladas por esses grupos paramilitares.
Apesar de minoritários, os tutsis derrotaram os hutus, e hoje dominam quase o país inteiro.
Centenas de milhares de hutus, temerosos de uma eventual vingança por parte da FPR, deixaram suas casas e se aglomeraram em enormes campos de refugiados.
A mortalidade nesses campos chegou a ser de 2.000 pessoas por dia, por causa do cólera, da disenteria e da fome.
"Hoje esse número caiu para 500 ao dia", afirmou Del Mundo.

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