São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 1994
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Reputação e política

LUÍS NASSIF

Neste momento o ministro da Saúde, Henrique Santillo, está sendo alvo de uma campanha que não dignifica a ética jornalística.
Mais do que desestabilizar o ministro, o que se visa com os ataques é justificar a redução de verbas para a saúde, um genocídio que se pratica neste momento em nome de um equilíbrio orçamentário falso que visa, apenas, garantir o real até as eleições.
No domingo, um diário carioca publicou matéria interna com a seguinte manchete: "Há irregularidades na gestão de Santillo, mostra auditoria".
Que tipo de irregularidades? "Denuncia-se" que, para formular seus pedidos de verbas para este ano, a Saúde baseou-se em projeções sobre AIHs (Autorização de Internação Hospitalar) de 1990 que, segundo o estudo citado (preparado pelo Ministério do Planejamento), não teriam sido confirmadas pelo censo de 1991.
A presumível irregularidade, portanto, consiste na tentativa da Saúde em obter mais verbas para o setor.
Nem vale a pena entrar no ridículo desse debate em torno de números. A realidade caótica dos hospitais está aí, à vista de todos, em matérias diárias na imprensa.
Mau jornalismo
O que se fez a partir da tal "irregularidade" é exemplo acabado do que pode se transformar o jornalismo, quando vira joguete nas mãos da fonte.
Ontem, voltava-se a atacar a Saúde sem nenhum dado substantivo. "Auxiliar de Santillo é alvo de denúncia". O auxiliar seria proprietário de uma empresa que vende equipamentos para hospitais. Nenhuma informação se ele se valeu do cargo ou não para auferir vantagens, nada.
No final da matéria, a informação de que "o ministro Santillo, atrapalhado com denúncias crescentes de corrupção em sua pasta, só vai se manifestar sobre o assunto depois de ouvir o auxiliar".
Mas onde há corrupção, raios? Quanto tempo vai ser necessário para que não se entre mais nesse xadrez leviano, de jogar com a honra das pessoas para agradar as fontes?
Esse mesmo jogo irresponsável provocou o afastamento do ex-ministro Alceni Guerra, atrasando em mais de dois anos a implantação da municipalização da saúde. Pouco importa para esses levianos os estragos que suas atitudes causam à saúde como um todo, o aumento da mortalidade infantil, o desmantelamento da rede hospitalar. Guerra é guerra.
Guerra e reputação
Não conheço a vida política prévia do ministro Santillo para poder avalizá-la. No ministério, seu comportamento tem sido exemplar. Não se candidatou a nenhum cargo eletivo, bancou todas as propostas de municipalização da saúde, não utilizou nenhuma das verbas da saúde com propósitos políticos, não desmantelou a estrutura que herdou do antecessor e colocou seu pescoço a prêmio quando rebelou-se contra a falta de verbas –grandeza que falta a seus detratores.
Então porque essa leviandade? Simplesmente porque eleição virou guerra, e o equilíbrio orçamentário um fetiche, que tem que ser preservado a ferro e fogo para garantir a eleição do ex-ministro FHC.
O prêmio pela fidelidade será um cargo no próximo governo. Pouco importa para essas pessoas a reputação de terceiros, a estrutura da saúde, a situação dos doentes, a importância de um projeto como a municipalização da saúde.
O que vale é juntar cacife para o próximo governo.
Varig
A General Electric deve indicar o ex-ministro da Economia Marcílio Marques Moreira para seu representante no Conselho da Varig.

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