São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 1994
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Estragos da guerra com o Iraque ainda são visíveis

FRED MADERSBACHER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O xá Mohammed Reza Pahlevi estava no trono desde 1941. Seu regime era progressivo, altamente repressivo e corrupto.
Suas modernizações feriram os sentimentos islâmicos, a tentativa de proibir o uso do "chador" provocava a ira dos "mullahs" (sacerdotes shiitas) e dos muçulmanos fundamentalistas.
Em 16 de janeiro de 79, houve um levante popular e o xá fugiu. Morreu no Egito, em 1980.
O aiatolá Hajji Sayyed Ruhollah Musavi Khomeini era o líder da oposição contra o xá.
Depois de estudar teologia, filosofia e direito na sagrada cidade de Qom, obteve, na década de 1920, o título de aiatolá (o mais alto grau do clero shiita) e dedicou-se ao ensino islâmico.
Em 1962 entrou em oposição à política do xá de emancipar as mulheres e reduzir os direitos do clero. Foi exilado, em 1964.
Voltou em triunfo, em 1º de fevereiro de 1979, aclamado por multidões jubilosas. Assumindo o controle, o aiatolá –agora "imam" (líder)– instaurou uma república islâmica dominada pelo clero –pela primeira vez desde os tempos dos califas.
Seguia-se o outubro de 1979, com o ataque à embaixada dos Estados Unidos em Teerã e a tomada de 52 reféns (sequestrados por 444 dias) e outros atos terroristas. Mas tudo isso perdeu importância diante da guerra contra o Iraque.
A República Islâmica, que se via como única defensora do Islã verdadeiro, agora estava envolvida numa luta acirrada contra o mundo inteiro.
Os EUA tornaram-se o antagonista-mor, o "Grande Satã". Para os iranianos, a lógica disso era evidente: o gigante irreligioso tinha suportado o odiado regime do xá, depois o agressor iraquiano, e tinha até abatido um avião civil iraniano.
A União Soviética também foi declarada "Grande Satã".
Em 1980, Saddam Hussein tentou apropriar-se da província do Khuzestão, rica em petróleo, onde vive grande contingente de árabes.
Esse ato trágico custou a vida de mais de 500 mil homens. Pela primeira vez desde a Primeira Guerra Mundial o mundo assistia aos horrores de exércitos em trincheiras atacados por gases venenosos.
Depois de oito anos, um cessar-fogo foi negociado, mas os estragos da guerra aérea ainda são visíveis nas províncias fronteiriças, e no Irã inteiro encontram-se cemitérios militares.
Em 4 de junho de 1989, o aiatolá Khomeini morreu. No seu enterro, uma multidão estimada em dez milhões –cifra sem precedente na História– despediu-se dele.
Em agosto de 1989, o líder do parlamento, o Hojjatol-Islam Ali Akbar Hashemi Rafsanjani foi eleito presidente.
(FM)

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