São Paulo, quinta-feira, 18 de agosto de 1994
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Escritor é perseguido por livro 'blasfemo'

ALCINO LEITE NETO
EDITOR DO MAIS!

Em outros tempos, o Irã foi uma capital de cultura e ciência, um centro de inteligência e pesquisa para onde convergiam sábios de várias partes do mundo.
Hoje, tornou-se uma espécie de território-emblema do obscurantismo cultural, desde que o aiatolá Khomeini proclamou a "fatwa", ou condenação à morte, do escritor Salman Rushdie, em 1989.
Naquele ano, o escritor publicou "Os Versos Satânicos", um livro considerado blasfemo em relação ao profeta islâmico, Maomé.
Logo após a publicação, o aiatolá ofereceu 2 milhões de libras (hoje, cerca de R$ 3 milhões) para quem executasse Rushdie.
O escritor indiano naturalizado inglês passou a viver escondido e protegido por agentes de elite do governo britânico.
O livro foi queimado em praça pública em vários países islâmicos. Em outros países, seus editores e tradutores receberam ameaças, ou foram esfaqueados (como o tradutor italiano) ou mortos (o tradutor japonês).
Contra o Irã, Rushdie tornou-se, por sua vez, um emblema internacional da liberdade de criação.
Várias campanhas foram feitas em seu nome e várias manifestações levadas ao governo iraniano, a fim de obter o seu perdão e aplacar o ânimo dos fanáticos religiosos e dos mercenários empenhados na sua captura.
O aiatolá Khomeini morreu, mas nem a pena nem a recompensa foram suspensas. Ao contrário, teve seu valor aumentado. O escritor continua escondido e suas aparições-relâmpagos (na TV, em shows, em encontros internacionais de escritores) são acompanhadas de forte esquema de segurança.
Não adiantou nada Rushdie dizer que seu livro era pura ficção. "Os Versos Satânicos", que virou best seller, continua proscrito com suas passagens que sugerem que Maomé não foi tão casto nem tão santo quanto diz o Alcorão, o livro sagrado do Islã.
O livro não foi editado no Brasil, mas uma edição portuguesa pode ser encontrada no país.

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