São Paulo, sábado, 20 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Diminui poder de compra da classe média

VERA BUENO DE AZEVEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Três despesas fixas –educação, saúde e habitação– foram as principais responsáveis pelo achatamento do poder de compra do assalariado de classe média no Plano Real.
Mensalidades escolares, planos e seguros de saúde e aluguel pesam hoje, no bolso do consumidor, mais do que pesavam antes da URV e do real, na quase totalidade dos casos.
Suponha um trabalhador que ganhasse, em fevereiro (ainda na era do cruzeiro real), o correspondente a R$ 2.000. E que pagasse R$ 240 de mensalidade escolar para dois filhos, R$ 150 de plano de saúde e R$ 200 de aluguel. Ele comprometia, nesses três itens, 29,50% de seu salário.
Suponha ainda que, na conversão para URV, o salário desse trabalhador tenha sido mantido nos mesmos R$ 2.000. Não houve qualquer aumento real.
Na passagem da mensalidade escolar para o novo indexador foi aplicado um aumento real acima da inflação) de 20%; no plano de saúde, de 17%; e, ao fazer um acordo com o proprietário de seu imóvel, o aluguel teve um reajuste, também real, de 75%.
Ganhando os mesmos R$ 2.000, esse assalariado passou a pagar, mensalmente, R$ 288 de mensalidade escolar, R$ 175,50 de plano de saúde e R$ 350,00 de aluguel. O comprometimento de seu salário com esses três itens pulou dos 29,50% da era do cruzeiro real para 40,67% na nova moeda.
Reajuste salarial obrigatório por lei só será na próxima data-base, pelo IPC-r acumulado a partir de julho passado, inclusive, quando o IPC-r foi de 6,08%.
Além disso, vale lembrar que o assalariado tem o hábito de investir o dinheiro que vai ser gasto no dia-a-dia no fundão e ir sacando conforme a necessidade.
Em junho, último mês da moeda antiga, o rendimento dessa aplicação já havia sido negativo, mesmo sem pagar IOF: 41,35%, contra uma inflação de 50,75%, medida pelo IPC-Fipe.
Em julho, primeiro mês do real, o fundão deu 4,74%, enquanto a inflação foi de 6,95% (IPC-Fipe).
No acumulado de dois meses, o fundão rendeu 48,05%, contra 61,23% da inflação.
Isso considerando que ele deixe o dinheiro investido pelo menos 15 dias antes de qualquer saque. Caso contrário, há a incidência do IOF.

Texto Anterior: Estatal muda para sobreviver
Próximo Texto: Escolas desconsideram regras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.