São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Lendas envolvem as tiragens do passado

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Lendas envolvem astiragens do passado
Por falta de registros oficiais, a história das tiragens recordistas na fase romântica da imprensa brasileira é pontilhada de casos antológicos –quase todos lendários.
Em 1955 e 1956, a revista "O Cruzeiro" sustentava que sua circulação semanal alcançara média de 700 mil exemplares.
Por essa versão, o recorde só teria sido ultrapassado pela revista "Veja", na edição de 729.157 exemplares de 1º de maio de 1985, que noticiou a morte do presidente Tancredo Neves.
A tiragem apontada por "O Cruzeiro" é, no entanto, contestada por publicitários.
Altino de Barros, pioneiro da pesquisa de mídia no país, diz que na década de 50 a circulação de revistas já oscilava entre 150 mil e 200 mil.
"O Cruzeiro", escreveu ele, teria atingido os 700 mil exemplares de forma extraordinária na edição que noticiou o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954.
"Mesmo esse número foi posteriormente revisto", afirma Barros, vice-presidente da agência de propaganda McCann-Erickson.
Exagerar nas tiragens era uma prática comum antes da criação do IVC (Instituto Verificador de Circulação), que passou a atuar como órgão independente em 1965.
"Tanto que um dos problemas de 'O Cruzeiro', quando pretendeu se filiar ao órgão, era ver auditada apenas um terço da tiragem que alardeava", afirma Otto de Barros Vidal, atual presidente do IVC.
Algo semelhante pode ser dito em relação à suposta tiragem recordista do extinto jornal carioca "Última Hora".
Em seu livro autobiográfico, Samuel Wainer, fundador do jornal, informa que a edição de 24 de agosto de 1954 (data do suicídio de Vargas) teria vendido quase 800 mil exemplares.
"Não pode ser", duvida Barros, que auditava para a agência a circulação de jornais com base na cota de papel importado e checagem nas bancas. "Tiragens de 120 mil a 150 mil exemplares eram excepcionais à época".
"Não há registro de nenhum caso na história dos jornais de tiragem que sequer se aproxime de 1 milhão de exemplares", diz o historiador e jornalista Juarez Bahia, ao comentar os recordistas 1,1 milhão de exemplares da Folha do último domingo.
A revista "Veja", segundo a editora Abril, atingiu sua maior tiragem (1.050.000 exemplares) em maio de 1992, com Pedro Collor na capa.

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