São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
As quatro razões do sucesso de FHC
STÉPHANE MONCLAIRE
A primeira dinâmica nasce da representação dominante da conjuntura econômica. Esperava aparecer como o único responsável pelo plano de estabilização. O fracasso das medidas antiinflacionárias poderia lhe custar o acesso ao Planalto. Desta forma, para se proteger de uma reviravolta inoportuna dos índices econômicos, FHC e seus amigos do governo tiveram o cuidado de fixar um calendário vantajoso. Porém, mais ainda que este "timing", é a idéia que os brasileiros fazem da nova moeda. Pouco importa para economistas independentes que o sucesso do plano esteja longe. Enquanto os brasileiros acreditarem num futuro sem inflação e sem recessão, eles serão gratos a quem identificam como sendo o pai do plano. Segunda dinâmica: a ação da mídia. Por certo, a aversão de numerosos donos de jornais por Lula e sobretudo pelo PT não é nova. Todavia, a quantidade de artigos favoráveis a FHC explica-se menos pelas instruções eventuais dos donos que por uma dupla homologia: Por outro lado, a frequente similitude nestes últimos 20 anos entre a trajetória intelectual de FHC e a evolução das preferências ideológicas destes jornalistas. Terceira dinâmica: as adesões provocadas pela evolução das intenções de voto. Quanto mais a eleição se aproxima, mais as pesquisas contribuem para a definição do provável. Na verdade, quanto mais as pesquisas dão FHC como vencedor, mais os atores sociais julgam útil a seus interesses juntar-se ao candidato. Ora, quanto mais estas adesões se operam, mais FHC dispõe em cada Estado de apoios políticos, financeiros e simbólicos aptos a atrair eleitores até agora reticentes ou indecisos. Estas novas intenções de voto são, em seguida, registradas pelas pesquisas, e isto atiça novamente o fluxo das adesões a FHC. É assim que os brasileiros conservadores se juntaram aos eleitores centro-esquerdistas. Visto o crescimento dos apoios das elites a FHC, a direita compreendeu que este era "o seu" candidato, o único capaz de protegê-la do "perigo". A quarta dinâmica resulta das eleições casadas e das relações intrapartidárias. O caráter frequentemente doutrinário das posições defendidas pelos grupos compondo o PT o impediu, em vários Estados, de fazer alianças. Assim, FHC ultrapassa Lula nos Estados onde os candidatos do PT são isolados e fracos nas pesquisas. É verdade que, ao mesmo tempo, o caráter fisiologista das formações locais que sustentam FHC facilitou muito as adesões. Mas até que ponto FHC pode correr o risco de aparecer como o refém dos conservadores? Texto Anterior: SOBE-DESCE Próximo Texto: Para 63%, tucano tem melhor atuação na TV Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |