São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Desgaste desnecessário

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No atual estágio da campanha, Fernando Henrique exibe uma musculatura de Mike Tyson e um comportamento de lutador amador, de terceira divisão.
Os números do Datafolha são impressionantes. Demonstram que o candidato tucano está prestes a nocautear o rival. Ainda no primeiro round da luta.
O cenário era inimaginável há três meses. Nem o mais ferrenho inimigo do PT seria capaz de prever que a candidatura de Lula se dobraria tão cedo.
Fernando Henrique e sua assessoria têm boas razões para manterem a calma. Mas, contraditoriamente, começam a distribuir golpes baixos. Podendo fazer uma luta limpa, optam pelo jogo sujo.
Ao difundir a falsa notícia de que o PT confiscaria poupanças, o comitê tucano expõe o candidato do PSDB a um desgaste desnecessário e inútil.
Desnecessário porque Fernando Henrique sobe de produção. Embalado pelo real, obteve sucesso relâmpago. Mostra-se em condições de superar Collor, que precisou de dois turnos para levar Lula à lona.
Inútil porque, com a língua pela cintura, o PT não exibe capacidade de reação. Lula e seu partido mergulham naquela fase em que um começa a responsabilizar o outro pelo fracasso.
Os golpes abaixo da linha de cintura não ficaram limitados à entrevista de Gustavo Franco, desautorizada pelo economista. Há ainda uma palestra de Hélio Jaguaribe, tucano que tem em seu currículo uma passagem pelo governo Collor.
Diante de um grupo de empresários, Jaguaribe disse que, se Lula for eleito, haverá fuga de capitais e invasões de terras. Puro terrorismo eleitoral. Aliás, Jaguaribe prevê o fim do mundo há tempos. O curioso é que ainda haja gente disposta a dar-lhe ouvidos.
Há duas semanas, a assessoria de Fernando Henrique revelava o receio de que, em queda nas pesquisas, Orestes Quércia acabasse partindo para a baixaria eleitoral.
Dizia-se que Quércia havia contratado jornalistas para vasculhar a vida da nata tucana. O candidato do PMDB, de fato, possui alentados dossiês sobre alguns personagens desta eleição. Mas guarda a papelada mais como arma de contra-ataque.
Coube ao PSDB a tarefa de tentar conduzir a disputa para a sarjeta do vale-tudo eleitoral. Dessa vez, quem começou o tiroteio foi o mocinho.

Texto Anterior: Para 63%, tucano tem melhor atuação na TV
Próximo Texto: FHC ultrapassa Lula no país inteiro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.