São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Aniversários têm sabor de vitória

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cada vez que Luiz faz anos, a data é comemorada pelos avós, em casa, e pelos médicos do Hospital Emílio Ribas. Seus aniversários têm um sabor de vitória contra o HIV.
Luiz (o nome é fictício) é o mais velho sobrevivente dos filhos da Aids no país. Em maio passado, completou dez anos.
O menino está na quarta série e vive com os avós num bairro da zona sul de São Paulo. Ainda não foi informado que está com Aids, mas os médicos acreditam que saiba.
Sua mãe se infectou com o uso de drogas e morreu dois anos atrás. Luiz tinha sete meses quando foi levado pela primeira vez ao Emílio Ribas.
"Foi a primeira criança que cuidamos", diz a médica Marinella Della Negra. "Até os quatro anos, o menino vivia constantemente doente e internado. Nos últimos anos só vem aqui uma vez por mês para tomar medicação."
Luiz não tem problemas na escola, adora TV e tem sua turminha de amigos. Mesmo quando vai ao Emílio Ribas carrega um dos seus cadernos. Como Luiz, cerca de 700 crianças foram infectadas ao nascer no Estado de São Paulo. Pelo menos 230 já estão frequentando escolas.
As meninas fazem charme para sair na foto. Janete, 9, arruma o cabelo e troca de blusa para aparecer bonita.
"As crianças estão cheias de vida e vivem nos fazendo perguntas", diz o padre Júlio Lancelotti, que faz o papel dos meninos e meninas. Ele acha que as crianças sabem da gravidade da doença que têm.
"Elas perguntam por que as outras crianças não têm de ir ao hospital e por que tomam tanto remédio." Elas próprias evitam os chocolates por causa das diarréias e ficam quietas em exames que exigiriam anestesia em outras crianças.(AB)

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