São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
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Descolorir o cabelo é nova senha dos 'modernos'
MAURICIO STYCER
Um novo sinal identifica, na noite paulistana, os sempre mutantes frequentadores de clubes e casas noturnas: o cabelo descolorido. Graças ao uso intensivo –e às vezes abusivo– de produtos químicos, vastas cabeleiras pretas e castanhas estão saindo totalmente brancas dos salões da cidade. "Estou fazendo uma descoloração por dia", diz o cabeleireiro Tiago Alves dos Santos, dono de um salão sintomaticamente chamado Blondie (loiro em inglês) e, ele próprio, um recém-convertido à tribo dos cabeças-brancas. A moda nasceu, como não poderia deixar de ser, nas páginas das revistas de estilo européias, aterrissou nas agências de modelos brasileiras e foi adotada pelo chamado "mundinho" da noite. "Já tinha feito de tudo um pouco com o meu cabelo quando, há quatro meses, vi vários modelos com cabelo descolorido numa 'The Face' (revista inglesa de estilo e moda)", conta Nenê, ex-"promoter" da casa noturna Sra. Krawitz. "Agora, está todo mundo usando igual", acrescenta. Para celebrar a nova tendência, dezenas de homens e mulheres de cabelo branco ou platinado vão se reunir na noite de terça-feira. A festa, intitulada "A Igualdade É Branca", será num dos templos desse pessoal, a casa noturna Ursa Maior (r. Augusta, 2.203, Cerqueira César, tel. (011) 280-0795). A maior atração promete ser a presença de um cabeleireiro do salão Jacques Janine, pronto a descolorir –de graça– o cabelo escuro de quem se aventurar a entrar para a turma. "Quero só ver. A pessoa, meio bêbada, vai descolorir o cabelo e, no dia seguinte, ao acordar, vai chorar", diz, rindo, Simone Ruotolo, 19, do Trio Platino Blondie, que está organizando a festa. Chorar, ao ver o cabelo escuro de toda uma vida ficar branco em questão de meia hora, não é raro. "Foi bem chocante no início. Muitas pessoas falaram que ficou feio. Mas eu gostei", conta a também promotora da festa Gláucia Roberta Alves, 21, uma ex-ruiva que virou loira em março. Problemas de todo o tipo surgem durante a transformação. "Descolori e pintei de rosa para ir numa festa. Mas aí ficava em casa de boné para minha mãe não ver. Até que ela descobriu e passou a me chamar de pantera", conta Luiz Henrique Campos, caixa da casa noturna Massivo. Atingir a tonalidade desejada também não é sempre fácil. "Quando descolori pela primeira vez, na época da Copa, o cabelo ficou laranja. Fiquei com medo e parei de andar de ônibus", diz o ator Julio Mattos, 23. Após seis descolorações, Julio, que também é conhecido como a drag-queen Juliana Mattos, já pode exibir cabelos bem brancos. Outro problema que exige bom humor dos neoloiros é a perda da cor à medida que o cabelo vai crescendo (mais de um centímetro por mês) e é lavado. "Batizei a cor do meu cabelo, quando a tintura começou a gastar, de rusky siberiano", diz Glaucia Alves, numa referência a uma raça de cachorro da cor cinza. A moda do cabelo branco se propaga com tanta velocidade pelo mundo da noite e da moda que já tem gente preocupada. "É chato ver tanta gente parecida. Mas quando o subúrbio começar a fazer, eu já vou estar com outra cor", diz o costureiro Paulo Modena, da Escola de Divinos. "Já não é mais tão diferente usar o cabelo assim. Mas agora estou com a raiz preta, o que fica mais moderno ainda", diz a modelo Gisele Fetter. Descolorida desde fevereiro, essa precursora já se prepara para partir para outra. "Vou para o Japão e eles querem que eu use minha cor natural" (que vem a ser castanho claro), diz Gisele. "É preciso tomar muito cuidado. Está na moda, mas não é todo mundo que fica bem de cabelo claro. As mulheres com temperamento de aquariana, mais soltas, podem se arriscar. As outras, não", adverte uma especialista, a diretora-geral da agência de modelos Elite, Ina Sinisgalli. Texto Anterior: 'Madeira ainda está nova' Próximo Texto: Produtos podem provocar queda Índice |
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