São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
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Mercado começa a buscar o longo prazo
JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
No mesmo período, o movimento financeiro diário triplicou na BM&F (Bolsa de Mercadorias & de Futuros) e, na Bolsa de Valores, subiu 85,4%. Antes de junho, os contratos futuros tinham um horizonte máximo de 60 dias. Agora, o dólar é negociado para janeiro de 1995 e o juro para dezembro deste ano. Os negócios com ouro definharam. Saíram de uma média diária de 5,2 t em 1993 para 1,6 t na primeira quinzena de agosto. Nos bancos, os depósitos em conta corrente cresceram 94,5% de junho para a primeira quinzena de agosto, quando a média diária atingiu R$ 7,528 bilhões. Os números mostram as mudanças que estão acontecendo no mercado financeiro após o Plano Real e que só se consolidam se a inflação permanecer comportada. A primeira: o centro de gravidade das operações está se alterando. Antes, ele era ocupado pela dança dos vários índices de inflação versus a taxa de juros. Agora, a atenção está voltada para a relação entre câmbio e juros. "O que se está arbitrando é o fluxo de capitais (entradas e saídas) contra o tamanho do juro interno", diz Luiz Carlos Mendonça de Barros, do banco Matrix. "O mercado está mais internacionalizado." Roberto Ruhman, diretor do banco Indosuez, diz que o Plano Real não trouxe instrumentos novos para induzir uma maior internacionalização, mas "existe uma maior presença dos investidores estrangeiros nas Bolsas e nos papéis da dívida externa". Jair Ribeiro, diretor do banco Patrimônio, associado da Salomon Brothers, diz que o investidor externo está voltando ao mercado acionário e "assumindo uma posição de longo prazo". Isto se traduz em uma procura maior por ações de segunda e terceira linha (das principais empresas privadas) e menor peso para as de primeira. O presidente da Bolsa de Valores de SP), Álvaro Augusto Vidigal, diz que não é apenas a participação do investidor estrangeiro que está crescendo. "O investidor médio está também trocando o CDB por ações." A queda nominal dos juros também está por trás do crescimento das operações na BM&F, segundo Dorival Rodrigues Alves, superintendente-geral. "Com inflação baixa, o administrador de recursos e de carteiras está usando mais a engenharia financeira. Isto é fundamental para, como é no Primeiro Mundo, diferenciar A de B." O juro está na casa dos 4% ao mês. Oferecer o trivial é remunerar a aplicação neste patamar; sair do trivial é oferecer ao cliente o que o mercado chama de performance (rentabilidade de 10%, por exemplo). Isto envolve a chamada engenharia financeira –com operações no mercado futuro– e se reflete no aumento do volume da BM&F. "Uma nova tendência é operar, como nos EUA, com uma taxa de administração bem pequena e cobrar uma taxa de performance", diz Alves. A instituição combina com o investidor que se o rendimento superar a casa de, por exemplo, 6%, ela ficaria com, também como exemplo, 10% sobre o ganho. "Esta é uma mudança qualitativa importante", diz João César Tourinho, do banco Europeu. "Meus clientes estão cada vez mais preocupados com a performance e menos em garantir que o juro reflita a inflação passada". Texto Anterior: Início deve ser em setembro Próximo Texto: BM&F propõe novos contratos Índice |
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