São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Opostos se completam no Icatu

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

Duas jovens personalidades, radicais e antagônicas, ajudaram a transformar, em oito anos, uma distribuidora criada apenas para cuidar da fortuna pessoal da família Almeida Braga no Banco Icatu, o 41 do país por tamanho de ativos e o terceiro em rentabilidade entre os 50 maiores, com um lucro de US$ 30 milhões.
Um, o engenheiro e economista Daniel Dantas, 38, sócio minoritário, é formal, elegante e perfeccionista. Outro, Luiz Antonio de Almeida Braga, 36, um dos donos da fortuna, é a antítese de um banqueiro tradicional. Informal e até um pouco extravagante no que diz e na maneira de se comportar, nunca usa terno e gravata.
Dantas foi chamado para trabalhar com os Almeida Braga quando Antônio Carlos, o pai, saiu do Bradesco levando US$ 150 milhões por sua parte no negócio.
Deste dinheiro, US$ 50 milhões serviram para iniciar o Icatu. Convidado por Kati, irmã de Luiz Antônio e hoje responsável pela área de seguros, a partir de indicação do economista Mário Henrique Simonsen, Dantas é formado em engenharia e economia, com doutorado no Massachussets Institute of Technology.
Luiz Antônio estudou economia até o primeiro ano: "Precisei parar de estudar para trabalhar. Sou arrimo de família", diz às gargalhadas.
O segredo do rei Midas do mercado financeiro, Daniel Dantas, é a mania de perfeição. Ele tem fama de só fazer bons negócios, tranformando oportunidades aparentemente inexpressivas em ouro puro.
É um obstinado: nas reuniões com os diretores ele não se contenta com o fato de um determinado negócio ter dado certo. Quer saber o que poderia ter sido feito para melhorá-lo.
Dantas procura deixar a menor margem possível para o inesperado. "O acaso conspira contra", diz. Ele e seus assessores se cercam de informação. O gasto em "pesquisa talvez seja, proporcionalmente, o maior do mercado", diz. Mas prefere não revelar os números.
O banco de dados do Icatu contém, entre outras coisas, dados econômicos de todas as empresas que negociam ações em Bolsa no Brasil. Os dados mais antigos são de 1955.
Arredio ao se referir à vida pessoal, Dantas revela que é louco por trabalho. Reserva sempre um dia do fim-de-semana para algum trabalho extra. O dia livre é reservado à mulher, Maria Alice, e à filha, Cecília.
Certo dia, o acionista majoritário do Bradesco, Amador Aguiar, perguntou a seu então sócio Antônio Carlos de Almeida Braga quando ele passaria a usar gravata. Braguinha respondeu: "Quando você começar a usar meias".
Passou o tempo e, agora, o filho de Braguinha, Luiz Antônio, dirige o Icatu com uma fusão de estilos. Não usa gravata nem meias. Herdou a informalidade e a irreverência do pai.
Mas isso não vale para todos. Uma vez, alguns funcionários chegaram atrasados de uma viagem e foram trabalhar sem terno e gravata. Almeida Braga não perdoou: "Vocês vieram vestidos de acionista?"
Na quinta-feira da semana passada, o traje de acionista era uma camisa branca desabotoada até a altura do peito por fora da calça marrom. Ele não se importa de passear pelos corredores do banco com o calcanhar descalço, amassando a parte de trás do sapato mocassim marrom.

Texto Anterior: BM&F propõe novos contratos
Próximo Texto: Regra nº 1 é ouvir o cliente, diz consultor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.