São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Kazu quer o título ou artilharia

RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Kazu já se acostumou com a comida e o idioma, mas não com o futebol italiano. "Vai ser um desafio enfrentar defesas tão fortes como as daqui."
Kazuyoshi Miura é o primeiro japonês a disputar o Campeonato Italiano. Ele foi emprestado por um ano pelo Verdy, do Japão, ao Genoa.
Kazu, entrevistado pela Folha por telefone, jogou oito anos no Brasil –vestiu as camisas de times como Santos, XV de Jaú e CRB de Alagoas.
Depois voltou ao Japão, onde tornou-se campeão no primeiro campeonato profissional japonês pelo Verdy Kawasaki.

Folha - No Genoa, você continua como ponta-esquerda?
Kazuyoshi Miura - Devo jogar no ataque, em dupla com Skuhravy. Também posso jogar como ala, voltando ao meio para ajudar a marcar e armar jogadas.
Folha - Como foi a recepção da imprensa italiana?
Kazu - Primeiro, eles se perguntavam como um japonês podia jogar bem futebol. Fiz dois jogos nessa pré-temporada e eles mudaram de idéia. Fiz uma primeira partida na equipe (contra um time de amadores de Gênova) dois dias depois de chegar à Itália. Entrei no segundo tempo e fiz dois gols –um de cabeça e outro de perna esquerda. As boas críticas surgirão se eu for bem.
Folha - Qual é a diferença entre o futebol do Brasil, o do Japão e o da Itália?
Kazu - Nos campeonatos brasileiro e japonês, os atacantes criam com passes curtos e tabelas. No Verdy, minha troca de bola com Bismarck era nossa jogada mais perigosa. Na Itália, as jogadas começam principalmente com lançamentos longos.
Folha - E os treinamentos?
Kazu - Na Itália se treina três vezes por dia. Estava acostumado a treinar no máximo duas vezes, mas sei que preciso melhorar fisicamente.
Folha - O que você espera conquistar na Itália?
Kazu - Vou ganhar algo aqui: ou o campeonato ou a artilharia ou a fama.
Folha - Como foi deixar o Japão, onde você é ídolo?
Kazu - Foi minha decisão vir para a Itália. Queria participar do campeonato que reúne os melhores jogadores do mundo. Para isso, tive que deixar para trás meus fãs no Japão.
Folha – Você já aprendeu a falar italiano?
Kazu - Misturo o português com o pouco que sei de italiano e me faço entender. Consigo compreender bem os italianos.
Folha - Qual foi a reação dos italianos após perder a Copa?
Kazu - Eles nem comentam o assunto. É como se não existisse.
Folha - Torceu para quem?
Kazu - Torci para o Brasil. Fiquei muito nervoso nos pênaltis da partida final. Os brasileiros provaram na Copa o que eles são: os melhores futebolistas do mundo. Fiquei muito contente que Leonardo, Mazinho, Bebeto, jogadores contra os quais joguei, tenham conquistado o título.

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