São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994 |
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Microondas no céu contam história do Universo
JOSÉ REIS
Desse fenômeno já se conheciam diversas provas, a mais importante e decisiva das quais foi o encontro, há cerca de 30 anos, da própria radiação de fundo. O primordial objetivo do satélite Cobe foi construir mapas do Universo tal como ele era em seu começo, registrando as estruturas então existentes. Em 1965 Arno Penzias e Robert Wilson comunicaram a detecção de uma uniforme radiação de fundo, formada por microondas, que era emitida de todas as regiões do Universo. Prêmio Nobel Concluiu-se que essa radiação, cuja descoberta valeu o prêmio Nobel a seus descobridores, nada mais representava que partículas dispersadas 300 mil anos após a explosão original. O Universo inicialmente não passava de densa, opaca e quentíssima nuvem de gases. Ao fim de 300 mil anos as partículas que a compunham uniram-se, formando átomos. Com isso, a condensada massa se fez transparente e luminosa, espalhando em todas as direções partículas de luz (fótons). Estes viajaram 15 milhões de anos até chegar a nós. Durante esse longo período o Universo foi adquirindo estrutura e a radiação de fundo esfriou, sendo hoje de apenas três kelvins, isto é três graus acima do zero absoluto. Se, por um lado, a radiação de fundo alegrava os físicos por suas muitas implicações teóricas, por outro os desapontava. E isso porque, tanto quanto revelavam as muitas medidas realizadas, ela se mostrava absolutamente uniforme, sem flutuações ou ondulações térmicas que correspondessem à construção de estruturas como galáxias, aglomerados galácticos etc. Se os sensores detectassem irregularidades na homogeneidade da radiação, estas poderiam ser consideradas como "sementes" daquelas estruturas. Formações primitivas Avidamente os cientistas montaram experiências para tentar ver essas primitivas formações. A mais bem equipada foi coordenada por George Smoot com o satélite Cobe, lançado a 18 de novembro de 1989. Uma de suas missões especiais era mapear toda a esfera celeste em diversas frequências de microonda, e assim proporcionar a tomada de vários "instantâneos" independentes da radiação de fundo. Colheu-se enorme quantidade de dados durante diversos meses. Os primeiros resultados desses dados foram apresentados à Sociedade de Física Americana, em Washington. Os mapas revelaram nítidas, porém pequenas, variações em diferentes regiões do Universo. Esses coloridos mapas apresentam, sobre fundo homogêneo, numerosas manchas de variadas formas e tamanhos, isoladas ou interligadas. Em um dos mapas, os aglomerados de manchas aparecem acima e abaixo de uma faixa homogênea e horizontal correspondente à emissão de radiação de nossa galáxia, a Via Láctea. As manchas representam a distribuição da matéria 300 mil anos após a explosão inicial. História do Universo Além de fornecer informação crucial sobre as sementes da atual estrutura do Universo, os mapas da radiação de fundo colhidos pelo Cobe podem, pelo exame do espectro e da amplitude das flutuações, propiciar, em princípio, informação sobre os processos físicos que se desenvolveram antes da história do Universo. Podem, por exemplo, levar à pequeníssima fração de segundo após a explosão, quando o Universo principiou a sofrer a brusca e enorme expansão trilhões de vezes maior que a prevista no }big bang, segundo a variante desse modelo conhecida como Universo inflacionário. Texto Anterior: Europa tem mais projetos Próximo Texto: O que é fusão termonuclear? Índice |
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