São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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PT precisa mais do que palavras

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Pesquisa Datafolha publicada hoje revela uma devastadora avalanche: Fernando Henrique Cardoso pula para 41%; Lula cai, atingindo 24%. Com esses números, a eleição já estaria concluída logo no primeiro turno. Tradução: apenas com discurso o PT não segura mais o candidato tucano.
Para barrar Fernando Henrique é necessária uma reversão abrupta da euforia com o Plano Real, acompanhada de explosão de preços ou desemprego em massa –duas hipóteses remotas. Ou a revelação de um fato terrível da vida do candidato –envolvimento em grossa bandalheira, por exemplo.
Outra possibilidade é a descoberta de um segredo bombástico de vida pessoal. Mas, a julgar pela popularidade de Fernando Henrique, não pode ser pouca coisa: precisam de um cadáver no meio. E da família. Casos extraconjugais não emplacam: até porque, na galeria dos candidatos à sucessão, a primeira pedra atirada vai ter formato de bumerangue.
Os números do Datafolha são consequência de uma disparidade perversa: a campanha dos tucanos vai muito bem; e a do PT vai muito mal. Não bastasse a onda do real, Fernando Henrique tem a seu lado a máquina do governo –usada inescrupulosamente–, o poder econômico, simpatia em largos setores dos meios de comunicação, um bom programa eleitoral e desempenho nos debates. Seus candidatos a governador prosperam; alargam-se as alianças.
Lula se esborrachou ao bater de frente no real e, até agora, não emplacou um discurso alternativo. Sua militância está desanimada, os candidatos a governador sucumbem, o programa eleitoral é, na melhor das hipóteses, regular. Falta dinheiro.
Ainda há muito jogo pela frente. Difícil a vitória de Fernando Henrique. Mas, mantida essa tendência, está cada vez menos difícil. Essa hipótese era, até pouco tempo, inimaginável, virou remota, entrou agora no campo do possível. E caminha para o provável.

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