São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Autópsia do PT

CLÓVIS ROSSI

VITÓRIA – Josias de Souza ensinou sexta-feira, nesta Folha, que "pesquisa não é urna". Eu também acho, mas é preciso avisar o pessoal do PT.
Nunca vi um partido render-se tão rápida e incondicionalmente como o PT está fazendo. É notável o baixo astral da militância, de quadros dirigentes e de simpatizantes em geral.
A bem da verdade, exclua-se dessa situação justamente aquele que mais abatido deveria estar, o próprio candidato presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas no caso é bem provável que se trate de uma questão mais freudiana do que política propriamente dita. Lula, como ele próprio afirmou no debate da Bandeirantes, é um vitorioso. Afinal, escapou de morrer de fome para se tornar líder indiscutido de um dos maiores partidos brasileiros, talvez o maior em militância real.
Se o ânimo dos petistas se mantiver do jeito que está, pesquisa vai acabar sendo urna, sim. E aí vai se levantar a questão de saber o que acontece com o partido e com Lula. Por mais vitorioso que se sinta, não é fácil sobreviver, anímica e politicamente, a três derrotas eleitorais consecutivas em pleitos majoritários (computando a disputa pelo governo paulista em 1982).
Em relação ao partido, o quadro é mais complicado. De um lado, haverá a sedução do governo FHC, que já se parece mais ao governo Itamar Franco, nos seus primeiros momentos, do que à velha Aliança Democrática, a coalizão que elegeu Tancredo/Sarney em 1985.
Se Walter Barelli, então próximo do PT e indicado por Lula, e depois Luiza Erundina sucumbiram a Itamar, é razoável supor que outros petistas se sentirão tentados pelo charme de FHC.
Mas gente que conhece as entranhas do partido garante que três de cada dez eleitos pelo PT para os Legislativos estaduais e federal serão das correntes ditas xiitas, avessas a qualquer tipo de composição.
Como Lula é, eleitoralmente, maior do que o PT, resta saber se tentará manter-se acima das correntes, flutuando em um espaço rarefeito, ou se pulará para algum lado, redefinindo a cara do partido.

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