São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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O pior esporte do mundo

THALES DE MENEZES

Jim Courier parou, Martina Navratilova vai parar, Andre Agassi também, Steffi Graf fala em parar, Monica Seles não volta, Jennifer Capriati não pára de engordar.
Pelo jeito, o tênis deve ser o pior esporte do mundo. Afinal, é o único no qual as principais estrelas, que ganham rios de dinheiro e ainda são jovens (exceto Martina), pensam em desistir de competir no auge de suas carreiras.
É o tipo da coisa que não se vê em nenhum outro esporte. É inexplicável. Se um veterano que nunca conseguiu entrar na lista dos 100 melhores resolve parar, tudo bem. Mas quando se trata de um "top ten", qual a justificativa?
O tênis não desgasta mais fisicamente do que outros esportes. O desgaste psicológico também é suportável. O salário é bom –bom demais, até. O que falta para essa rapaziada é garra.
Harold Solomon, simpático norte-americano que foi "top ten" nos anos 70 e hoje treina Mary Joe Fernandez, opinou sobre isso no último Aberto da França. Almoçando com jornalistas em Roland Garros, disse estar decepcionado com a falta de garra dos jovens.
Solomon recordou o drama de amigos que lutaram contra sérias contusões para continuar jogando. "Dick Stockton reconstituiu seu quadril fraturado com umas peças de metal. Fez um ano de terapia, sofrendo muita dor. Hoje, um desses garotos pára três semanas por causa de unha encravada", disse.
Na verdade, colabora muito para o desinteresse dos atletas a premiação dos torneios hoje em dia. São valores que beiram o obsceno. Rod Laver venceu 40 títulos para chegar a US$ 300 mil dólares em prêmios. Bjorn Borg foi número 1 do mundo por cinco anos para completar US$ 2,5 milhões.
Atualmente, um único título em torneios do Grand Slam significa US$ 500 mil na conta bancária dessa molecada. Jim Courier, que anunciou sua retirada no dia do 24º aniversário, já ganhou dinheiro suficiente para sustentar até a quinta geração da família.
O caso de Monica Seles é um pouco mais complexo, mas não deixa de ser sintomático. Ela está recuperada fisicamente, todo mundo sabe. Ela sofreu um trauma muito forte, todo mundo reconhece. Mas já está na hora de voltar.
Se Seles não tivesse uma fortuna pessoal avaliada em US$ 9 milhões, será que já não teria superado o trauma e voltado a trabalhar?
Molecada, tênis é bacana e dinheiro não é tudo. Cadê a garra?

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