São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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O Brasil "cool"

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O Brasil prepara-se para eleger o mais "cool" de todos os presidentes de sua história democrática. Excluo da lista os presidentes da chamada "República Velha" (até 1930) porque o direito de voto era limitado demais para se aplicar o conceito de democracia.
De todos os presidentes eleitos a partir da Revolução de 30, só o marechal Eurico Gaspar Dutra é comparável a Fernando Henrique Cardoso em matéria de distanciamento das massas, sem nenhum julgamento de valor de qualquer dos dois.
São apenas fatos. Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Fernando Collor eram figuras que despertavam ódios e amores mais ou menos na mesma proporção.
Mais amor no momento da eleição e quotas crescentes de ódio à medida que o tempo passava.
Talvez seja um bom sinal. Afinal, de todos os presidentes citados, o único que pôde concluir o seu período foi JK e, assim mesmo, após duas tentativas golpistas. Além disso, Juscelino não conseguiu fazer o sucessor, sinal evidente de que os amores que desperta hoje, com a perspectiva do tempo, não eram tão fortes durante a fase final de sua administração.
FHC é "cool" também nas promessas, pelo menos as iniciais. Não promete nada de revolucionário, nada de 100 dias iniciais repletos de iniciativas fantásticas, nada de um tiro só. Fala, ao contrário, em revisão constitucional, o mais frio dos assuntos a esta altura do campeonato, e de reforma tributária, como suas primeiras inquietações.
Parece improvável que as massas ganhem as ruas em passeatas de apoio ou de protesto contra uma ou outra reforma.
Esse tipo de governo tende a ser um choque para um país que se acostumou a emoções fortes nos últimos muitos anos. De novo, não dou à palavra choque uma conotação valorativa, para o bem ou para o mal. É apenas uma constatação do contraste com os primeiros momentos de Jânio e Collor, para não recuar demais no tempo.
Resta conferir se este tropical país resiste a um estilo "cool".

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