São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula no governo?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Mesmo que perca a eleição, hipótese que hoje parece a mais provável, Luiz Inácio Lula da Silva poderá chegar ao poder pela porta dos fundos, se quiser.
Ocorre que no QG da campanha de Fernando Henrique Cardoso, hoje com toda a pinta de vencedor, flutua a idéia de convidar Lula a participar do futuro governo. Não é ainda uma decisão tomada. Nem sequer foi objeto de conversas mais aprofundadas. É, por ora, muito mais uma expressão de desejos, mas existe em algumas das principais lideranças do PSDB.
Tal possibilidade combina, de resto, com a intenção cada vez mais consolidada de FHC de compor um ministério de notáveis, independentemente da filiação partidária de cada um dos possíveis convidados.
Na entrevista que concedeu à Folha e foi publicada no domingo retrasado, Fernando Henrique definiu Lula como "um grande líder de massas". Ora, se há a disposição de dar ao futuro gabinete esse característica de notáveis, um "grande líder de massas" é uma figura mais ou menos obrigatória. Pelo menos é o que ensina a lógica mais elementar.
Um possível convite a Lula não significa, necessariamente, atrair o PT como instituição. Na análise que se faz entre os tucanos de plumagem mais imponente, Lula não só é maior do que o PT, mas é considerado também melhor do que o seu partido.
Ou, traduzindo: há muito pouca paciência, entre os comandantes do PSDB, para negociar com o PT ou para entender suas disputas internas. Tanto Mário Covas, a partir de sua experiência como prefeito de São Paulo entre 83 e 85, como os vereadores do PSDB durante a gestão Luiza Erundina (89/92) adquiriram verdadeiro horror ao comportamento dos petistas seja na Câmara Municipal, seja no Executivo.
Não estão dispostos, por isso mesmo, a contrair uma úlcera em negociações com o PT como um todo, ainda mais no embalo de uma vitória que, hoje por hoje, se desenha como retumbante. Mas separam Lula desse todo.
É claro que uma vitória no primeiro turno facilitaria passar-se do estágio de embrião de projeto para uma proposta concreta. Um segundo turno entre os dois teria tudo para envenenar as relações. A conferir.

Texto Anterior: Quanto custam boas intenções
Próximo Texto: A racionalidade e a vaca
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.