São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Poucas empresas dominam indústria

ELVIRA LOBATO ; MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudo recém-concluído pelo governo mostra que 17 setores da indústria brasileira apresentam um índice médio de concentração de mercado três vezes maior do que o considerado "altamente preocupante" nos Estados Unidos.
O estudo, feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Ministério da Fazenda), conclui que o segmento mais concentrado no Brasil é o das copiadoras, em que a Xerox detém perto de 90% do mercado.
O critério adotado pelo governo norte-americano para medir o grau de concentração é o Índice Herfindhal Hirschman, calculado a partir da participação das empresas na receita global do mercado.
A Federal Trade Commission considera desconcentrados os segmentos com índice até 1.000, moderadamente concentrados os que vão de 1.000 a 1.800 e extremamente concentrados os que têm índice acima de 1.800.
Usando o mesmo critério para o Brasil, o Ipea constatou que no segmento de copiadoras o índice chega a 9.224 (5,2 vezes o que os EUA consideram extremamente concentrado).
Nos mercados de computadores, baterias e montadoras de automóveis, o índice ultrapassa 4.000. Nos segmentos de lâmpadas, máquinas de escrever, cobre, higiene e limpeza, aços planos, elevadores, condutores elétricos e aços laminados, o índice é superior a 3.000.
Segundo o Ipea, ainda estão bem acima do índice de concentração considerado razoável nos EUA os setores de metalurgia, torneiras/chuveiros/aquecedores, tratores e colheitadeiras, freios e componentes, eletrodomésticos e centrais telefônicas.
O estudo constata que a concentração tem aumentado através dos processos de fusão e aquisição de empresas. Ele analisa 11 pedidos de fusões de grandes empresas aprovados pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) de 1991 até abril último.
Pelo levantamento, 87% das vendas de equipamentos agrícolas estão em mãos de três empresas: Fiat, Valmet e Maxion.
O estudo diz que a fusão da Brasilit com a Eternit, que constituíram uma nova empresa chamada Eterbrás, fez com que elas concentrassem 68% do mercado interno de caixas d'água e telhas de amianto.
No setor de limpeza, a compra da Orniex pela Bombril levou o grupo Cragnotti&Partners a deter 58% do mercado de detergentes líquidos do país.
Somado com a participação do segundo maior fabricante, a Gessy Lever, perto de 90% desse segmento ficou concentrado em duas empresas.
No mercado de impressoras, a união da Rima com a Coperbo, cada uma com mais de um terço do mercado, levou à dominação, pelo novo grupo formado, de 67,8% do segmento.
Na área química, o estudo cita a fusão da Rhodia com a Cia. Alcooquímica Nacional, através da qual as duas passaram a deter 84,7% da produção de ácido acético.
Enquanto nos EUA as fusões são longamente analisados –a compra da McCaW, por US$ 12,5 bilhões, pela AT&T, do setor de telecomunicações, está sendo analisada há um ano pelo governo–, no Brasil grande parte dos pedidos submetidos às autoridades nos últimos três anos passou por decurso de prazo.
"As fusões e aquisicões têm sido aprovadas sem maior análise econômica, sem apontar benefícios e riscos", avalia a economista Lúcia Helena Salgado, do Ipea.
A perspectiva é de que a situação mude com a Lei Antitruste, aprovada em junho último. A nova lei prevê punições por abuso econômico caso as empresas que passaram por fusão não cumpram determinadas metas.
No mundo todo há concentração de empresas. O movimento faz parte do processo geral de busca de maior qualidade, produção em escala e redução de custos.
Segundo a economista do Ipea, os oligopólios (número reduzido de empresas que dominam o mercado), no Brasil, têm grande poder de formação de preços porque a abertura da economia para a concorrência estrangeira tem sido feita de maneira gradual.
Nos Estados Unidos, diz ela, também existem oligopólios mas seu poder é menor porque o mercado admite ampla concorrência estrangeira.
No Brasil, as multinacionais da área de alimentos, higiene e limpeza, por exemplo, suspendem suas vendas quando atingem determinada cota pré-estabelecida no início do mês. Com isso, impedem queda dos preços por excesso de oferta.
Nos segmentos onde a concorrência estrangeira é maior, como o de lâmpadas, as multinacionais reduziram seus preços.
Segundo a Fipe, enquanto a inflação de janeiro a julho deste ano foi de 1.050%, o preço das lâmpadas foi reajustado em 985%.
Quatro grandes empresas dominam este mercado no Brasil: GE, Phillips, Osram e Silvânia, todas multinacionais.
Segundo Isac Roizenblatt, gerente de marketing da Phillips, 20% das lâmpadas para faróis de automóveis usadas no mercado brasileiro já são importadas e a abertura do mercado obrigou os fabricantes a investir em melhoria da produtividade.
Roizenblatt diz que o segmento de lâmpadas é concentrado no mundo inteiro.
A mais importante, ocorrida no exterior, foi a compra de parte das unidades industriais da Silvânia pela Osram, que vem a ser uma subsidiária da gigantesca Siemens alemã. A subsidiária da Silvânia no Brasil não fez parte da transação e concorre com a Osram no mercado interno.

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