São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Governo esbanja seus poucos recursos

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A Braspetro (Petrobrás Internacional S.A.) mantém fechado há cinco anos um prédio próprio de 12 andares no centro do Rio e já gastou cerca de US$ 16 milhões, ou quase três vezes o valor do seu imóvel, para funcionar em instalações alugadas.
O exemplo de desperdício de dinheiro público começou em outubro de 1989, quando a subsidiária da Petrobrás decidiu sair do seu prédio na praça Pio 10, ao lado da igreja da Candelária, para instalar-se em três andares alugados de um prédio no bairro do Maracanã (zona norte).
Esse prédio pertence à Fundação Petros, o fundo de pensão dos empregados da Petrobrás.
Os exemplos de desperdício dos escassos recursos públicos brasileiros são muitos.
No mês passado, a Folha divulgou relatório de uma comissão ministerial revelando que manipulações políticas, fraudes e outras formas de desvios consomem grande parte dos US$ 500 milhões mensais gastos com a saúde, enquanto faltam remédios em postos de saúde de regiões pobres.
O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, disse que os desperdícios dos recursos públicos "sempre foram uma praga" para o país.
O hábito do desperdício gera episódios flagrantes, que se repetem todos os dias, como o que foi registrado pela Folha no dia 11 deste mês.
Às 20h, todas as luzes do prédio de 15 andares, no centro do Rio, onde funciona a delegacia regional do Ministério da Educação e vários outros órgãos estavam acesas. Não se podia distinguir funcionários trabalhando.
Solicitado a dar explicações sobre o fato, o administrador do prédio, Luiz Carlos Neves, declarou que o normal é as luzes serem apagadas entre 18h30 e 19h.
Ele disse ter sido informado de que um dia a cada semana o pessoal da limpeza trabalha até mais tarde, o que daria motivo a que as luzes permanecessem acesas.
Mas confessou não ter ficado ele mesmo satisfeito com a explicação. Ele informou que a conta referente ao consumo de energia do prédio em julho foi de R$ 11.216,00.
No caso da Braspetro, está em andamento na 16ª Vara Federal do Rio uma ação popular, impetrada por um grupo de sindicalistas da empresa, contra a mudança de prédio. A ação está em fase de apresentação de provas.
Em maio de 1991, quando a Folha publicou outra reportagem sobre o mesmo assunto, um grupo de trabalho criado pela Braspetro chegou a recomendar o retorno da empresa a suas próprias instalações, o que não ocorreu.
Na época, o então vice-presidente executivo Raul Mosmann disse que também era favorável ao retorno.
O grupo de trabalho avaliou naquela época o prédio em US$ 4,4 milhões e calculou em US$ 1,1 milhão o custo da reforma necessária para sua reocupação.
Este ano a estatal tentou vender o prédio por cerca de US$ 5,5 milhões, sem sucesso. Uma nova reavaliação está sendo providenciada.

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